A princípio é simples anda-se sozinho
passa-se nas ruas bem devagarinho
está-se no silêncio e no burburinho
bebe-se as certezas num copo de vinho
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
Pouco a pouco o passo faz-se vagabundo
dá-se a volta ao medo dá-se a volta ao mundo
diz-se do passado que está moribundo
bebe-se o alento num copo sem fundo
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
E é então que amigos nos oferecem leito
entra-se cansado e sai-se refeito
luta-se por tudo o que leva a peito
bebe-se come-se e alguém nos diz bom proveito
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
Depois vem cansaços e o corpo fraqueja
olha-se para dentro e já pouco sobeja
pede-se o descanso por curto que seja
apagam-se dúvidas num mar de cerveja
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
Enfim duma escolha faz-se um desafio
enfrenta-se a vida de fio a pavio
navega-se sem mar sem vela ou navio
bebe-se a coragem até dum copo vazio
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
E entretanto o tempo fez cinza da brasa
e outra maré cheia virá da maré vaza
nasce um novo dia e no braço outra asa
brinda-se aos amores com o vinho da casa
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
Sérgio Godinho
Previsível esta música, previsível esta frase batida. Muitos dias já foram os primeiros, como tantos outros eram para ter sido, e perderam a vez.
Passou-se quase um ano desde a dolorosa separação de Évora. A reconciliação com S. Brás previa-se mais curta. Acabou por durar mais... demais!
Em Setembro farão 7 anos desde o divórcio definitivo com a minha terra. Foi amigável. Gosto de revê-la, gozar do passado inscrito nos seus recantos e da possibilidade de voltar a cada esquina. Tudo à distância de uma vida construída noutro qualquer lugar.
Chega nova hora de partir. Precisamente no dia 1 de Julho, Domingo, rumo ao norte. Porto, essa cidade que conheço tão pouco e que me encanta tanto. O estômago aperta? Aperta! Sintoma típico de quem luta contra a acomodação, mas que se encolhe na hora de lhe fazer frente... Não importa, enquanto as pernas não entorpecerem.
Quero ir, quero muito ir. Até onde ainda não sei bem. Por enquanto entusiasmam-me as margens do Douro , por pouco tempo que seja. Depois volto? Vou? Torno a ir? Torno a voltar?
Não importa. O que me prende é o que me liberta: o sabor de arriscar ter medo.
Adoro viver, mesmo quando me esqueço disso. E como tenho andado esquecida ultimamente! Nova oportunidade e todo o meu ser vibra... alguém me segredou uma vez mais : enquanto houver estrada para andar, a gente vai continuar.