Previsível esta música, previsível esta frase batida. Muitos dias já foram os primeiros, como tantos outros eram para ter sido, e perderam a vez.
Passou-se quase um ano desde a dolorosa separação de Évora. A reconciliação com S. Brás previa-se mais curta. Acabou por durar mais... demais!
Em Setembro farão 7 anos desde o divórcio definitivo com a minha terra. Foi amigável. Gosto de revê-la, gozar do passado inscrito nos seus recantos e da possibilidade de voltar a cada esquina. Tudo à distância de uma vida construída noutro qualquer lugar.
Chega nova hora de partir. Precisamente no dia 1 de Julho, Domingo, rumo ao norte. Porto, essa cidade que conheço tão pouco e que me encanta tanto. O estômago aperta? Aperta! Sintoma típico de quem luta contra a acomodação, mas que se encolhe na hora de lhe fazer frente... Não importa, enquanto as pernas não entorpecerem.
Quero ir, quero muito ir. Até onde ainda não sei bem. Por enquanto entusiasmam-me as margens do Douro , por pouco tempo que seja. Depois volto? Vou? Torno a ir? Torno a voltar?
Não importa. O que me prende é o que me liberta: o sabor de arriscar ter medo.
Adoro viver, mesmo quando me esqueço disso. E como tenho andado esquecida ultimamente! Nova oportunidade e todo o meu ser vibra... alguém me segredou uma vez mais : enquanto houver estrada para andar, a gente vai continuar.
A Direcção-Geral dos Serviços Prisionais (DGSP), recebeu o terceiro prémio do concurso Boas Práticas no Sector Público, atribuído ao projecto «Um dia na Prisão» na Categoria Serviço ao Cidadão, numa cerimónia no Hotel Ritz, ontem.
(www.dgsp.mj.pt)
Não sei datar esta notícia, uma vez que essa informação não estava no site, mas suponho que não seja muito antiga. Apeteceu-me escrever sobre este assunto, uma vez que tive o previlégio de acompanhar uma primeira fase da sua implentação e de assistir a "um dia na psisão" durante o meu estágio no Estebelecimento Prisional Regional (EPR) de Beja.
Sem querer alongar-me em explicações, queria apenas contextualizar que este é um dos sub projectos do Projecto Gerir para Inovar o Sistema Prisional (PGISP), que tem uma duração de 3 anos, acabando agora em 2008, e está implementado em 5 Estabelecimentos Prisionais piloto, dos quais Beja também faz parte. Do PGISP também faz parte o sub projecto do empreendedorismo, reportado pela SIC numa grande reportagem (http://www.youtube.com/watch?v=HmFM68aYfuk). O grande objectivo deste projecto é o que o próprio nome indica: criar novas formas de gerir para inovar nos serviços prisionais. Depois de testados os sub projectos nos EP's piloto, seria objectivo exportá-los para todos os outros EP, como forma de modernizar e agilizar o sistema prisional (http://www.pgisp.info/).
Mais um dia de notícias que folheio para não emburrecer em demasia.
Depois de uma fixação doentia pela Ota, eis que surge uma abertura inédita para avaliar e gastar mais uns riachos de dinheiro em estudos para pôr em cima da mesa novas propostas, que de novas já não devem ter grande coisa. Ainda gostava de saber quanto tempo e dinheiro mais vão custar os caprichos deste governo, que um dia sim, outro dia não e no dia a seguir, talvez. E para quê tanta suposta preocupação, ponderação e análise, se no fim todos sabemos que a melhor solução será sempre a que enche mais fartamente os bolsos dos senhores doutores e engenheiros que nos chupam o sangue todos os dias, e que vão continuar a fazê-lo sem "mas" nem "ses".
Alberto João Jardim também parece possuído por um espírito novo: aberto e educado, palavras que não estamos habituados a associar a tal personagem. Toma hoje posse no cargo do qual se demitiu há alguns meses atrás (isto até dava vontade de rir, se não fosse tão dramático) e eis que surge com este discurso: "a minha ideia não é andarmos aqui a repisar desentendimentos anteriores, mas estarmos abertos e disponíveis, com vontade de construir o futuro da Madeira na base de um diálogo com o Governo da República."(Público, hoje)
Associo esta estranha mutabilidade de Jardim e Mário Lino ao exame nacional de português. Em homenagem a Fernando Pessoa, que apareceu no exame sobre a forma de Álvaro de Campos, também estes senhores andam a tentar criar heterónimos. Mas penso que para grande parte dos portugueses, 1 Alberto João Jardim e 1 Mário Lino chegam, portanto sugiro que se querem homenagear Pessoa, vão para a Brasileira e fumem ópio.
E para finalizar, exactamente sobre o exame de português, escreve uma professora de português, também no Público de hoje, que ficou contente com o exame, porque ao sair para o corredor ouviu uma tímida aluna dizer "Ainda bem que li todos os poemas de Álvaro de Campos" e viu como ela e os seus colegas estavam a discutir poesia, num simples corredor, numa simples escola. Discutir poesia? Parece-me bem, mas sinceramente duvido que estes alunos estivessem realmente a discutir poesia. Estariam a comparar respostas, a discutir interpretações impostas pelos programas, a fazer contas de cabeça para tentar chegar a um número que traduzisse o seu conhecimento sobre a língua e sobre as obras.
Acrescenta ainda esta professora que Fernando Pessoa também ficou contente por perceber que os jovens do século XXI ainda o "sentem" ("sentir?Sinta quem lê").Não tendo eu a pretensão de conhecer Fernando Pessoa e a sua obra melhor do que uma professora de português, devo dizer continuo a duvidar que Pessoa esteja a dar pulos de contentamento por um punhado de adolescentes ser obrigado a ler a sua obra de uma forma tão linear, e depois ser recompensado em número por vomitar no exame o que andou a engolir em seco nas aulas. Penso que isto não taduz, nem de perto nem de longe, a complexidade de um Ser tão genial, que não cabia dentro de uma só pessoa, e por isso criou tantas outras. Sinta quem lê e não, sinta quem decore.
E finaliza: "Nos dias que correm, é caso para dizer, vivam os exames de Português". Viva! Vivam os enlatados, a fast food da alma, a ditadura do livro da quarta classe, viva o ensino que exclui, o ensino que afunila a mente, que lhe rouba vocações, viva os Seres programados, reprogamados, vivam as pessoas transformadas em números, viva a prisão da ignorância na libertinagem da burrice!
Devido à imensidão de tempo livre que tenho, sobram-me horas e minutos, dias e semanas, para me dedicar a exercícios introspectivos, que apesar de fazerem parte de todo um processo de autoconhecimento e consciencialização que me parece muito útil, são frequentemente dolorosos e até se transformam em pescadinhas de rabo na boca, lá de quando em vez, não permitindo chegar a lado nenhum que não seja o inicio, de novo!
Ora vem isto a propósito de eu ter sérios problemas em tirar pessoas da minha vida, mesmo quando tudo me diz que essas mesmas pessoas já não têm vontade de cá continuar. Sempre fui quase obcecada pelas minhas amizades, e acima de tudo, sempre me recusei a acreditar que fosse inevitável que aqueles que numa altura são amigos mesmo, daquele tipo de amizade que já não precisa de palavras para comunicar, um dia se tornassem conhecidos, que passamos na rua, acenamos e dizemos "Olá. Então tudo bem?" e continuamos o caminho, porque esta é uma pergunta que não serve para obter resposta.
Mas, para o meu desalento, parece que é mesmo assim. Parece que não serve de muito tentar resolver os mal entendidos; parece que, de repente, as juras de amizade eterna do passado não passam de coisas de adolescentes, que ainda andam aos grupos e que acreditam que podem mudar o mundo, juntos, e que juntos vão permanecer para sempre... Adolescentes!
Concluí então que há realmente pessoas que são e têm que ser passagens na minha vida. Foram muito importantes, foram grandes lições de vida, de amizade, não uma amizade eterna, mas sim aquela amizade, que naquele momento foi muito, mas que estava destinada a um dia não ser nada. Ficam, e têm que ficar, as cartas escritas em cantos de folhas, os postais de natal e de anos, as fotografias de sorrisos partilhados e uma imensidão de momentos que quando voltam ao presente, ficam na indecisão de provocar riso ou choro.
Agora que já sei isto tudo...
Passam 3 anos e 14 dias desde um solarengo e caloroso dia de quase Verão, que começou muito cedo e terminou tarde demais. Foram os gritos aflitos da minha avó que me despertaram nessa manhã, no fim das minhas mini férias de erasmus, 3 dias antes de regressar a Itália para cumprir os finalmentes do programa.
O meu avô estava sentado na cama, encostado à parede, já depois de um ápice lhe ter roubado a vida. O INEM confirmou a falta do coração continuar a bater: o meu avô parou!
Seguiu-se a azáfama do inesperado, as vizinhas em solidárias visitas de frases feitas e os tristes preparativos. Sentei-me ali na cadeira perto dele, olhei-o pela última vez e lembrei-me que a terra era redonda como uma laranja, e que andava à volta do sol, como eu, pequenina como nunca fui, à volta do meu avô para ele me explicar de novo aquela complicada engrenagem, lembrei-me que basta um gesto de amor, para uma figueira despida pelo Outono dar chocolates numa manhã de Natal, lembrei-me que há histórias e ladainhas, e cantigas, cantilenas, cheiros e sabores e sons e cores que nunca vou deixar, que egoistamente vão ficar encerrados em mim, quando queria ter poderes para os mostrar assim, com a mesma intensidade com que os vivi. Às vezes, o que mais dói na morte não é ser eu a ficar sem aquela pessoa, mas sim o não poder partilhá-la e dá-la a conhecer a novas existências.
No fim do dia o meu pai disse algo que jamais vou esquecer "o teu avô viveu como quis, e morreu como quis!" Nada me soou tão verdadeiro quanto isto.
Guardo o meu avô em mim, com um amor que nunca fui capaz de pôr em palavras. É sempre assim...
Hoje lembrei-me de quem nunca vou esquecer.
Mandei-lhe uma carta
em papel perfumado
e com letra bonita
dizia ela tinha
um sorriso luminoso
tão triste e gaiato
como o sol de Novembro
brincando de artista
nas acácias floridas
na fímbria do mar
Sua pele macia
era suma-uma
sua pele macia
cheirando a rosas
seus seios laranja
laranja do Loge
eu mandei-lhe essa carta
e ela disse que não
Mandei-lhe um cartão
que o amigo maninho tipografou
'por ti sofre o meu coração'
num canto 'sim'
noutro canto 'não'
e ela o canto do 'não'
dobrou
Mandei-lhe um recado
pela Zefa do sete
pedindo e rogando
de joelhos no chão
pela Sra do Cabo,pela Sta Efigénia
me desse a ventura
do seu namoro
e ela disse que não
Mandei à Vó Xica,
quimbanda de fama
a areia da marca
que o seu pé deixou
para que fizesse um feitiço
bem forte e seguro
e dele nascesse
um amor como o meu
e o feitiço falhou
Andei barbado,sujo e descalço
como um monangamba
procuraram por mim
não viu ai não viu ai
não viu Benjamim
e perdido me deram
no morro da Samba
Para me distrair
levaram-me ao baile
do Sr. Januário,
mas ela lá estava
num canto a rir,
contando o meu caso
às moças mais lindas
do bairro operário
Tocaram a rumba
e dancei com ela
e num passo maluco
voamos na sala
qual uma estrela
riscando o céu
e a malta gritou'Aí Benjamim'
Olhei-a nos olhos
sorriu para mim
pedi-lhe um beijo
lá lá lá lá lá
lá lá lá lá lá
E ela disse que sim
Namoro- Ségio Godinho
Só porque é demasiado bonita,
só porque gostava de ter a capacidade de agregar letras e palavras de uma forma tão mágica,
só porque ainda sou uma romântica,
só porque este senhor também me eleva a alma.
É só para dizer que este tempo cor de branco misturado com preto, e estes dias iguais a ontem e a amanhã, dão-me vontade de "bomitar munelhos de cavelo"!