Sexta-feira, 31 de Agosto de 2007
...ao som do fado português, do destino das existências, das angústias amadas e desamadas, que se choram em risos de eufórica tristeza.
Leve sotaque da planície, aos quadrados nas camisas, réstias de momentâneas tradições nas pregas das calças cor de trigo, e a saudade a fazer vibrar a laringe, no atrito do som vindo das entranhas do que não se é.
A alma ultrapassa o ser, a música sangra por entre os gestos possuídos. As cordas chiam encantos, traduzem raras porções do que vai cá dentro.
E o dia, subitamente, torna-se digno de um bom copo de vinho tinto, regado por um estranho orgulho em falar esta língua.
As coisas vulgares que há na vidaNão deixam saudadesSó as lembranças que doemOu fazem sorrir Há gente que fica na históriada história da gentee outras de quem nem o nomelembramos ouvir São emoções que dão vidaà saudade que tragoAquelas que tive contigoe acabei por perder Há dias que marcam a almae a vida da gentee aquele em que tu me deixastenão posso esquecer A chuva molhava-me o rostoGelado e cansadoAs ruas que a cidade tinhaJá eu percorrera Ai... meu choro de moça perdidagritava à cidadeque o fogo do amor sob chuvahá instantes morrera A chuva ouviu e caloumeu segredo à cidadeE eis que ela bate no vidroTrazendo a saudadeMariza/Jorge Fernando
Chuva
Terça-feira, 28 de Agosto de 2007
É só isso
Não tem mais jeito
Acabou, boa sorte
Não tenho o que dizer
São só palavras
E o que eu sinto
Não mudará
Tudo o que quer me dar
É demais
É pesado
Não há paz
Tudo o que quer de mim
Irreais
Expectativas
Desleais
That's it
There is no way
It's over, Good luck
I have nothing left to say
It's only words
And what l feel
Won't change
Everything you want to give me
It too much
It's heavy
There is no peace
All you want from me
Isn't real
Expectations
Tudo o que quer me dar
É demais
É pesado
Não há paz
Tudo o que quer de mim
Irreais
Expectativas
Desleais
Mesmo, se segure
Quero que se cure
Dessa pessoa
Que o aconselha
Há um desencontro
Veja por esse ponto
Há tantas pessoas especiais
Now even if you hold yourself
I want you to get cured
From this person
Who poisoned you
There is a disconnection
See through this point of view
There are so many special people in the world
so many special people in the world in the world
All you want
All you want
Tudo o que quer me dar /Everything you want to give
me
É demais / It's too much
É pesado / It's heavy
Não há paz / There is no peace
Tudo o que quer de mim / All you want from me
Irreais/ isn't real
Expectativas / Expectations
Desleais
Now we're Falling into the night
Um bom encontro é de dois
Vanessa da Mata/Ben Harper
Domingo, 19 de Agosto de 2007
Só me apercebi disto, como de tantas outras coisas, na altura de deixar a alegre casinha e rumar à vida universitária. Mas a verdade é que ser de uma região sazonal, filha de pais comerciantes, tem mais que se lhe diga. Senão reparem: em primeiro lugar eu nunca tive férias com os meus pais. Porquê? Óbvio: quando nós, criancinhas de escola temos férias, em pleno Verão, os meus pais estavam em altura de maior trabalho; depois, quando os meus pais podiam relaxar da silly season, eu já estava sentadinha na carteira de escola, com os livrinhos a cheirar a novo e o material escolar por estrear.
Mas não fica por aqui. Felizmente (embora às vezes tenhamos que lhe colocar o prefixo "in") tenho uma família grande, como muitos primos e primas emprestados e tantos outros amigos dos amigos dos primos, vizinhos, familia dos vizinhos, vizinhos da familia, crianças, tantas crianças... E também felizmente (embora às vezes tenhamos que lhe colocar o prefixo "in") tenho uma casa grande, com algumas atracções veranis. Os meses de Julho e Agosto sempre foram marcados pelo som da água da piscina, dos gritos dos miúdos, da minha avó lá do fundo da rua dela a dizer "Não andes aí com os pés molhados", "Não façam barulho que a mãe tá a dormir a folga"e dos nossos projectos de ganhar muito dinheiro com a apanha da alfarroba (que no fundo não durava mais de 2 ou 3 tardes, tal era a dureza do trabalho... ou da nossa falta de habituação a ele). Eram os meses dos reencontros com os que estavam lá para Lisboa, lá para a França, lá para a Alemanha. É o tempo em que os limites desta casa desaparecem por completo, e todos têm e procuram o seu lugar.
E depois? Depois vem Setembro, como sempre veio, e lembro-me tão bem da angústia daqueles dias entre o fim do meu Verão e o início de um novo ano. Eram interminavelmente vazios e silenciosos.
A grande diferença nas nossas férias e nas férias dos outros, é que eles vêm e vão e nós estamos quando eles chegam e ficamos a vê-los partir. E toda a região se resente pelos que partem, sejam filhos, enteados, netos, bisnetos ou simplesmente simpatizantes, forasteiros neste rectângulo a sul. Levam-nos cor, alegria, movimento e pretextos para refilar do trânsito, das praias cheias de gente, da confusão... Confesso que também refilo, lá de vez em quando. Mas agonizaria se o cinzento do Inverno cobrisse a fugacidade dos tempos de calor.
É a sazonalidade da vida dos pássaros do sul.
mesmo quando ele parte para sempre.
Quarta-feira, 15 de Agosto de 2007
Cores de leveza flutuam nos corpos simples, despidos de luxos e enfeites; o pó maquilha rostos e peles, mesmo dos que não desejam; e assim se vive num outro espaço, diferente nas muitas igualdades, semelhante em tantas outras diferenças. A dança dá o mote, até para os pés de chumbo com audácia. Trocam-se odores, tocam-se peles desconhecidas, e ninguém leva a mal a falta de um duche e roupa limpa. A pele é mesmo assim, e quando se partilham danças, vai-se muito além da sua camada superficial. A igualdade de estados traz todas as desculpas e justificações.
A beleza persiste e adensa-se para além dos artefactos, artificios e artimanhas do espelho, dos pinçéis, dos retoques. Apetece dançar para sempre, aperfeiçoar passos, descobrir ritmos, encontrar olhares, despertar sensualidades. A dança é tudo isto e tudo mais. É completa, envolve-nos em todos os sentidos e transforma-os em 10, 15, 100, 1000... tantos quantos os que passam, agarram, sentem...
O tempo é de dança, do calor da dança, do frio da dança, do ameno da dança. Deixemo-nos envolver, e que siga a dança. A um tempo por agora. Outros compassos hão-de se seguir.
Terça-feira, 14 de Agosto de 2007
E se um dia, já quase noite, me lembrasse de um amigo, daqueles que passamos algumas semanas sem saber noticias, e que de repente nos escorre no pensamento; e mandasse uma mensagem, daquelas só para dizer olá, só para saber se está tudo bem, só para ver se dá para irmos beber um café e pôr a conversa em dia. E se nesse dia, ainda mais quase noite, a resposta começasse por: Olá. Sou a prima do Fábio. Porquê? A resposta vem a seguir: ele teve um acidente muito grave e acabou por falecer.
O quê? Não é possível. Telefonema de confirmação. É verdade, o funeral foi na Quinta.
O quê? Não é possível! Não é justo, não faz sentido... e não há nada a fazer senão tentar começar a perceber que é realmente verdade.
Muita vida ficou por viver, outras ficaram para sempre condenadas. E a sensação repete-se: não é justo... Nunca é justo... mas há vezes em que ainda é mais injusto.
A ti
Segunda-feira, 13 de Agosto de 2007
Faz muito tempo que por cá não passo. O ócio deu lugar ao trabalho (quer dizer, tem dias) e tem-me faltado tempo, mas sobretudo, world wide web nos momentos de inspiração.
Ultimamente a vida tem sido feita de novo. Tudo é novidade e permanece novidade, porque lhe falta o tempo para passar a rotina, a hábito. Os tempos verbais reúnem-se no presente do indicativo, à volta da mesa vazia, que num ápice se consome. Os ritmos da mudança confundem o estar sozinho, deixam-no baralhado, fazem-no duvidar da própria condição. E isso sabe bem. O companheiro de sempre permite-me a divagação do olhar, por terras virgens da minha presença e o espanto perante a beleza compensa frustrações. E as novas fisionomias sorriem e aconchegam as passagens.
Assim se vive, como um duende do Fabuloso Destino de Amelie.