O cinema é sem dúvida dos melhores programas para se fazer sozinho. Há sempre uma sessão que dê para encaixar no nosso horário; é caro, mas é um gasto controlado, ao contrário das compras, por exemplo; e ninguém olha de lado para a solidão de quem vai sozinho a um cinema. Além disso, ter alguma cultura cinematográfica é indispensável para quando se volta a estar acompanhado poder ter tema de conversa.
O pior é o caminho para lá. O pior são ecrãs de publicidade antes do filme. O pior são as muitas cabeças aos pares, trios, quartetos, quintetos... O pior é quando as luzes acendem. O pior é quando se sai e os comentários ao filme são feitos sem voz.
Há alturas em que se desliga o rádio e o simples balançar do som do motor conforta as ausências e embala os desafinados.
Sim, este é o mote para o post: o hábito que adquiri de espreitar os vídeos do Bruno Nogueira nos Incorrigiveis, às terças, e que aconselho vivamente (http://videos.sapo.pt/QmBjg9SCzz1LGeKdKUZp).
E este semana a minha alma ficou parva e o meu espírito esgadelhado. Falava ele de um artigo na Visão sobre mulheres que foram ou são casadas com homens homossexuais. E confesso que tive que ir imediatamente comprar a revista para saber se era mesmo verdade que uma "terapeuta familiar"- Margarida Cordo - tinha escrito, e passo a citar, a homossexualidade é um complexo, um transtorno da identidade sexual. É um doença e tem recuperação. E confere, está em letras garrafais na página 100 da Visão de 8 de Novembro! E, mais do que isto, pode ainda ler-se: "o teste da realidade pode ser levado ao limite quando se quer muito perservar uma união, através de controversas terapias de conversão de identidade. Inspiradas nas pesquisas do Psiquiatra Van den Aardweg, visam a abstinência de contactos homossexuais, considerados pelo especialista um transtorno do tipo neurótico desenvolvido na infância ou na adolescência (e não uma orientação sexual como são classificados desde 1975). A terapeuta familiar Margarida Cordo, 46 anos, acompanhou quatro casos deste tipo, mas somente 2 continuam em recuperação. (...) O problema, acrescenta, pode ser superado em 30% dos casos, pelo recurso à terapia individual, coadjuvado, se necessário, pelo método de 12 passos, usado nas dependências. A meta é conseguir a monogamia e o aprofundar de laços com o cônjuge (...)"
Bem, em primeiro lugar, como pensava eu ser do domínio geral, a homossexualidade deixou de constar no DSM (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders) e, como tal, não é considerada uma perturbação ou transtorno mental segundo a APA (American Psychiatric Association) desde 1973 e segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde) desde 1993 (http://ex-aequo.web.pt/homossexualidade.html). Ou seja, e como é referido em cima, é considerada uma orientação sexual. Mas, como é óbvio, toda a gente tem o direito de discordar e de expressar a sua opinião. O que me parece que excede o limite é ser uma terapeuta familiar a fazer este tipo de afirmações, e pior, no seu papel de profissional. A boa noticia é que só 4 casais com este problema passaram pela sua mão, e mesmo assim, 2 deles readquiriram o bom senso. Na minha modesta opinião a homossexualidade é tão natural como a heterossexualidade, embora esta última seja o que se convencionou como padrão. E as problemáticas e sofrimento que ainda lhe podem estar inerentes derivam única e exclusivamente de uma sociedade que rejeita, marginaliza, envergonha, embaraça, obriga a esconder... e tantos mais clichès se poderiam usar!
Sou a favor da liberdade de expressão, e de serem considerados vários pontos de vista para que cada um possa formular as suas opiniões da forma mais informada possível. Mas parece-me que nós ainda não estamos preparados para ler este tipo de testemunhos de um profissional que supostamente sabe do que fala. Talvez se estivéssemos num estado mais avançado acerca deste tema, suscitasse uma discussão noutros parâmetros, e até pudesse ser interessante. Por agora, acho que não se devia colocar a negrito uma ideia caduca, sem sentido e sem o mínimo de sensibilidade!
Não é novidade: sou uma portuguesa desmotivada e desiludida com essa condição! Não tenho escapatória nos ascendentes... todas as gerações da familia que o meu conhecimento alcança, são portugueses! E Portugal tem sido, ao longo destes 24 anos, a minha casa. Mas na generalidade da minha história recente, não me encho de orgulho do verde e vermelho da bandeira! E já não falo mal de espanhóis para afirmar o quão melhores que eles somos nós, desde a adolescência. O sentimento de injustiça, de descontentamento, de cansaço de tanta trapalhada made in Portugal está a dar cabo da minha auto estima nacional.
No entanto, há quem me faça regressar a estas fronteiras com gosto, quem me faça navegar de sorrisos e lágrimas, no mar que nos cobre, no céu azul que nos ama e na língua, nas nossas palavras, tão elegantes, tão melódicas, tão complexamente apaixonantes. É o fado, o timbre do fado, o Ser do fado, aquela força sobrenatural de quem geme a alma em acordes de puro orgasmo, de quem aperta o vazio entre as mãos, com a valentia demolidadora do destino, do sofrer de chorar, da alegria das lágrimas a escorrer, aos soluços entre os poros... É ser mais alto, é ser maior do que os homens. E volta a vontade de agarrar o ar impregnado daquela música, e nunca mais o deixar escapar. Só para quando as lágrimas voltarem a querer cair, abrir a mão, ouvir...
.. e chorar de orgulho por poder simplesmente sentir em português!
Oh, it's a mystery to me We have a greed with which we have agreed And you think you have to want more than you need Until you have it all you won't be free
Society, you're a crazy breed Hope you're not lonely without me...
When you want more than you have You think you need... And when you think more than you want Your thoughts begin to bleed I think I need to find a bigger place Because when you have more than you think You need more space
Society, you're a crazy breed Hope you're not lonely without me... Society, crazy indeed Hope you're not lonely without me...
There's those thinking, more-or-less, less is more But if less is more, how you keeping score? Means for every point you make, your level drops Kind a like you're starting from the top You can't do that...
Society, you're a crazy breed Hope you're not lonely without me... Society, crazy indeed Hope you're not lonely without me...
Society, have mercy on me Hope you're not angry if I disagree... Society, crazy indeed Hope you're not lonely without me... Eddie Vedder - Society (Into the Wild)
"Dêem-me uma dúzia de crianças sadias, bem constituídas e a espécie de mundo que preciso para as educar, e eu garanto que, tomando qualquer uma delas, ao acaso, prepará-la-eí para se tornar um especialista que eu seleccione: um médico, um comerciante, um advogado e, sim, até um pedinte ou ladrão, independentemente dos seus talentos, inclinações, tendências, aptidões, assim como da profissão e da raça dos seus antepassados."(WATSON - Behaviorismo)
"Há milhares de crianças-soldado na Birmânia" (PÚBLICO, 1/11/07)
Há sim senhor! Eis uma delas: Medidas de prevenção do suicídio nas forças de segurança, nomeadamente GNR e PSP.
Eu vou escrever sobre isto com a perfeita consciência do pretensiosismo de uma recém licenciada que simplesmente estagiou numa prisão e fez um trabalhito de investigação próximo destes temas das forças de segurança, nomeadamente sobre a Guarda Prisional (que curiosamente nem está abrangida por este plano!). Mas como este blog é meu, posso ser pretensiosa à minha vontade.
Feito este aparte, contextualizemos a situação: "A taxa de suicídio nas Forças de Segurança é idêntica à globalmente verificada na sociedade portuguesa (11,3% nos últimos 5 anos). Contudo, o Ministério da Administração Interna encontra-se atento ao fenómeno do suicídio e está a desenvolver – com as próprias Forças de Segurança e com os contributos técnicos de especialistas –, um conjunto de acções tendentes a sensibilizar, prevenir, tratar e intervir no âmbito de um Plano de Acção de Prevenção de Suicídio." (www.mai.gov.pt)
Lendo isto, sendo eu psicóloga e muito interessada nesta área, pensei que finalmente se deram conta que, entre outras graves lacunas, se calhar existe pouco apoio psicológico disponível para estes profissionais (tentei procurar o número efectivo de psicólogos que existem nos gabinetes de psicologia da PSP e GNR mas, nem referência a esses gabinetes encontrei, nos sites oficiais). E leio então a descrição geral da primeira das 3 vertentes das medidas:
"Vertente de Sensibilização-Prevenção, que integra as seguintes medidas: incrementar as avaliações periódicas e aleatórias do abuso de álcool e outras substâncias; divulgar as medidas e valências existentes nas respectivas instituições, designadamente através da distribuição de folhetos informativos, da realização de conferências/workshops dedicados a esta problemática; reforçar os instrumentos de avaliação dos traços de personalidade na selecção de candidatos e proceder à sua reavaliação no final do curso e durante o primeiro ano ao serviço da instituição." (idem)
Eu quando penso em sensibilização/prevenção do suicídio, não me ocorre logo, assim de repente, avaliações periódicas e aleatórias ao abuso de alcool e outras substâncias; folhetos informativos e workshops, já me parecem um bocadinho mais adequados, quando concertados com medidas de fundo bem mais efectivas; e avaliação de traços de personalidade, mesmo com o meu pouco conhecimento de como funcionam os psicotécnicos, parece-me uma escolha, no mínimo, infeliz. Eu, que sou uma mera jovem sonhadora, quando penso em prevenção e sensibilização, penso que o primeiro passo é saber exactamente quais as condições que levam a que estes profissionais, no fim da linha, recorram ao término da própria vida. Sim, porque o suicídio é o fim da linha. Ninguém acorda num dia feliz e contente da vida, com vontade de passear no campo e ouvir passarinhos, e no dia seguinte aponta uma arma à cabeça e dispara. Há um caminho até chegar ao limite. E são essas as razões que têm que se compreender, para poder actuar. E, como é claro, este conhecimento não advém de estudos de gabinete. É necessário o contacto prolongado com o dia a dia e a realidade destes profissionais, perceber os factores de stress, perceber a forma como se processa a sua formação, as condições de trabalho que têm, aquilo que mais os preocupa, que mais os afecta... E mesmo sem ter acesso a essa informação, eu arrisco-me a acreditar que a chave para a resolução de muitos dos problemas relacionados com as forças policiais está na sua formação de base. Tem, na minha opinião, que ser uma formação vasta, prolongada no tempo e muitíssimo humana. E digo humana não só porque é uma profissão de contacto privilegiadíssimo com pessoas, mas também humana relativamente a quem está dentro de uma farda. Felizmente as divisas não conferem super-poderes, e quem as guarda sobre os ombros continua a ser uma pessoa. Ou seja(e lá vem um cliché): sente, pensa, ri, chora, enfurece-se, enternece-se, tem dias bons, dias maus, tem medo, tem bravura... Bolas, porque é que continuamos a achar que aquilo que nos torna humanos, nos fragiliza e por isso temos que o evitar a todo o custo? Eu acredito piamente que a partir do momento em que assumimos TUDO o que nos constituí, tornamo-nos muito mais fortes e acima de tudo mais plenos, mais capazes de andar por cá!
Mas passemos à segunda vertente: Vertente de Tratamento, que integra a seguintes medida: Linha Telefónica SOS. Criar e/ou desenvolver uma Linha Telefónica SOS, comum às duas Forças de Segurança, de ajuda e intervenção em crise que permita a identificação de situações de risco de suicídio e possibilite uma acção imediata nesse contexto específico. (idem)
Um linha telefónica? Sim senhor, muito bem pensado! E porque não um email? Ou uma lista de contactos no msn? Era giro, tipo uma grupo de ajuda online. Já tou a ver: Rui diz: Oi! Eu xamo-me Rui e tava a penxar suicidar-me
João diz:
No prob Rui! tamos todos no mesmo. lol. donde teclas?
Perdoem-me a piada, mas realmente parece-me que quem está a gozar com uma situação muitíssimo séria é quem acha que a melhor forma de ajudar alguém à beira de se suicidar é oferecer-lhe uma linha telefónica SOS. E mais, a esta vertente chamam-lhe tratamento! Sem mais comentários!
E, finalmente, a terceira: "Vertente de Intervenção-Contençãoem casos de emergência, que integra as seguintes medidas: procedimentos de restrição do uso e porte de armas, quando forem identificados factores de vulnerabilidade psíquica que indiciem risco de suicídio; redefinição de funções, com vista a minimizar os factores de stress, a um maior enquadramento e a uma maior vigilância dos elementos identificados enquanto potenciais suicidas; apoio psicossocial, através da disponibilização de um conjunto de respostas que possam atenuar/neutralizar alguns dos factores potenciadores de suicídio; a elaboração de um Plano de Acção de Prevenção de Suicídio, tendo em conta os eixos supra mencionados, o estudo elaborado pela Sociedade Portuguesa de Suicidologia e a sua especificidade organizacional, podendo incorporar quaisquer outros contributos que sejam considerados pertinentes." (idem)
Como são diagnosticados casos de emergências? Como são identificados factores de vulnerabilidade psíquica? Não é que não seja possível, mas seria importante clarificar como tal se vai processar. Porque retirar o porte de arma a um polícia não pode ser uma acção de ânimo leve, baseada em conversas de café. E como irá reagir o profissional a quem foi retirada a arma? Uma coisa é certa, meios de acabar com a própria vida não faltam! E o que significa redefinição de funções no meio policial, devido à suspeita de uma possível comportamento suicida? E que apoio vai ter esta pessoa no trabalho, depois de lhe ser retirada a arma e redefinidas as suas funções? E as famílias, qual o suporte previsto para as famílias?