Eles não podem abandonar-me, na triste noite de Domingo, com esta TANQUILIDADE!



Why do all good things come to an end?

:)

Eu só queria dançar contigo, sem corpo vísível.

Sérgio Godinho - Dancemos Juntos

As pontas da estrela, brilhante, derretem ao calor da lareira acessa. Não desaparece a magia guardada no seu brilho.
Em tempos, reza a lenda, serviu de guia, no céu azul escuro. Marcou a solidão dos 3 destemidos, de preciosos presentes na bagagem, que caminharam até chegar ao seu dia: meia dúzia em Janeiro! E aí, admiraram quem os salvaria, na vida e depois dela.
Hoje, a estrela já não está lá em cima, no frio. Pegámos nela, demos-lhe uma forma com 6 bicos, pintámo-la de várias cores e colocámo-la no alto do exilibris natalicio. Já não somos só 3 destemidos, solitários em busca de salvação. Pelo contrário, a salvação procura-se no resto dos dias, áridos, em que nas ruas não há meninos de coro a entoar cânticos utópicos, em que as noites não são mais claras do que os dias, por culpa das grandiosas iluminações, em que solidariedade não se oferece, empacotada pelo espirito da quadra. Hoje, somos muitos em volta da mesa recheada de recordações, somos felizes pelo brilho dos papéis de embrulho, porque este ano teremos certamente mais qualquer coisa do que o ano passado, somos tristes porque em nenhum daqueles presentes estará a máquina do tempo, que faça regressar quem nos faz falta, ou que nos faça desaparecer, por uma noite que seja, a saudade... De quê? De quem? Não interessa.... no Natal todos sentimos saudade!
Talvez por isso tenhamos roubado a estrela ao céu. Ele tem muitas, e muitas delas foram nossas um dia. Agora, temos a nossa estrela de Natal, que sai da caixa dos enfeites todos os anos, para lembrar que, por estes dias, está ainda mais perto de nós.
O Natal é assim, pleno de ambivalências, onde encontram lugar a paz, o carinho, o entusiasmo, o amor, mas também a solidão, a nostalgia, a desavença, a tristeza... No entanto, é a nossa escolha, olhar para a árvore e só conseguir ver a luzinha falida, ou perceber que para além dela, muitas outras continua a piscar.
Todos os anos o Natal se repete, e todos os anos temos uma nova oportunidade de pedir à nossa estrela, derretida nas pontas, para que este ano se acendam novas luzes, e que para o ano, tudo seja ainda brilhante!

... guardo todas, para um dia lhe as atirar à cabeça!

(desabafo raivoso inspirado pela frase "Pedras no caminho? Guardo todas. Um dia vou construir um castelo", que vi no msn de um conhecido)