Andando, o principezinho encontrou um jardim cheio de rosas. Contemplou-as... Eram todas iguais à sua flor. E deitado na relva, ele chorou... ...E foi então que apareceu a raposa: - Bom dia, disse a raposa. - Bom dia, respondeu polidamente o principezinho, que se voltou, mas não viu nada. - Eu estou aqui, disse a voz, debaixo da macieira... - Quem és tu? Perguntou o principezinho. Tu és bem bonita... - Sou uma raposa, disse a raposa. - Vem brincar comigo, propôs o principezinho. Estou tão triste... - Eu não posso brincar contigo, disse a raposa. Não me cativaram ainda. - Ah! Desculpa, disse o principezinho. - Que quer dizer "cativar"? - É uma coisa muito esquecida, disse a raposa. Significa "criar laços..." - Criar laços? - Exactamente, disse a raposa. Tu não és ainda para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens também necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativares, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo... Se tu me cativares, a minha vida será como que cheia de sol. Conhecerei o barulho dos teus passos que será diferente dos outros. Os outros passos fazem-me entrar debaixo da terra. O teu chamar-me-á para fora da toca, como se fosse música. E depois, olha! Vês, lá longe, os campos de trigo? Eu não como pão. O trigo para mim é inútil. Os campos de trigo não me lembram coisa alguma. E isso é triste! Mas tu tens cabelos cor de ouro. Então será maravilhoso quando me tiveres cativado. O trigo, que é dourado, fará lembrar-me de ti. E eu amarei o barulho do vento no trigo... A raposa calou-se e considerou por muito tempo o príncipezinho: - Por favor... Cativa-me! Disse ela. - Bem quisera, disse o principezinho, mas eu não tenho muito tempo. Tenho amigos a descobrir e muitas coisas a conhecer. - A gente só conhece bem as coisas que cativou, disse a raposa. Os homens não têm mais tempo de conhecer alguma coisa. Compram tudo prontinho nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos. Se tu queres um amigo, cativa-me! - Que é preciso fazer? Perguntou o principezinho. - É preciso ser paciente, respondeu a raposa. Tu te sentarás primeiro um pouco longe de mim, assim, na relva. Eu te olharei com o canto do olho e tu não dirás nada. A linguagem é uma fonte de mal-entendidos. Mas, cada dia, te sentarás mais perto... No dia seguinte o principezinho voltou. - Teria sido melhor voltares à mesma hora, disse a raposa. Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz. E quanto mais perto for da hora, mais feliz me sentirei. Às quatro horas, então, estarei inquieta e agitada: descobrirei o preço da felicidade! Mas se chegares a uma hora qualquer, eu nunca saberei a que horas é que hei-de começar a arranjar o meu coração, a vesti-lo, a pô-lo bonito... São precisos rituais. - Que é um ritual? Perguntou o principezinho. - É uma coisa muito esquecida também, disse a raposa. É o que faz com que um dia seja diferente dos outros dias; uma hora, das outras horas. (...) Assim o principezinho cativou a raposa. Mas, quando chegou a hora da partida, a raposa disse: - Ai! – Exclamou a raposa – Ai que me vou pôr a chorar... - A culpa é tua, disse o principezinho. Eu não te queria fazer mal; mas tu quiseste que eu te cativasse... - Pois quis. - Mas agora vais-te pôr a chorar! - Pois vou - Então não ganhaste nada com isso! - Ai isso é que ganhei! Disse a raposa. Por causa da cor do trigo… Anda, vai ver outra vez as rosas. Vais perceber que a tua é única no mundo. Quando vieres ter comigo, dou-te um presente de despedida: conto-te um segredo. (...) - Adeus... - Adeus, disse a raposa. Vou-te contar o tal segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos... O essencial é invisível para os olhos – repetiu o principezinho, para nunca mais se esquecer. - Foi o tempo que tu perdeste com a tua rosa que tornou a tua rosa tão importante. - Foi o tempo que eu perdi com a minha rosa... Repetiu o principezinho, para nunca mais se esquecer. - Os homens já se esqueceram desta verdade, disse a raposa. Mas tu não te deves esquecer dela. Ficas responsável para todo o sempre por aquilo que cativas. Tu és responsável pela tua rosa...
Excerto de "O Principezinho", de Antoine de Saint-Exupéry
era a aula das 4 da tarde.
este foi o texto escolhido pela professora de português.
e assim, a cada palavra, a cada frase, a lágrima, impossível de conter, escorria até ao decote.
nunca consigo resistir a este diálogo, mesmo estando em frente a cerca de 10 formandos.
Estou, neste preciso momento, a ir contra a minha natureza. Porquê? Porque sinto uma vontade imensa de fazer algo que não posso fazer, porque seria incoerente, porque seria cair outra vez na asneira, mil vezes repetida.
Decidi então sublimar*...
Para quem precisa de um brilhozinho nos olhos
*mecanismo de defesa através do qual condutas instintivas e motivações não aceitáveis são substituídas por formas de actividades socialmente aceitáveis in http://www.priberam.pt/dlpo/definir_resultados.aspx
Por mais que se acredite piamente em qualquer coisa, quando se tem uma, duas, três, quatro.... experiências que demonstram o contrário, seria ridiculo continuar com essa fé desmedida. No mínimo, há que desconfiar que, se calhar, aquilo não é bem assim.
Escrevo a propósito de uma dos assuntos mais recorrentes na minha existência: relações, nomeadamente de amizade. Já escrevi sobre isso aqui, e volto a escrever porque sinto que tenho dado mais alguns passos no sentido de me curar desta coisa crónica que é pensar que se eu quero dedicar-me a uma amizade, a outra pessoa tem que fazê-lo exactamente da mesma forma. Erro recorrente na minha vida! Na verdade sempre tive uma espécie de fobia em pensar que os meus grandes amigos se transformariam em conhecidos, por este ou aquele motivo da vida. Este pensamento de que eu poderia e deveria fazer diferente, tem-me levado a estados de quase insanidade mental. Porém, acho que finalmente encaixei que tenho que me deixar disto. E constatei que sim, há amigos que se vão tornar, ou já se tornaram meros conhecidos e outros nem isso. E sim, as pessoas crescem, arranjam outras pessoas, arranjam outras prioridades, fazem escolhas. E por mais que custe, os amigos, que antigamente estariam em primeiro plano, passam para segundo ou terceiro. É a lei da vida e eu não vou mais contrariá-la. Porquê? Porque sempre que a tentei contrariar, as mazelas foram muitas, e os ganhos tão poucos que se perderam no meio de feridas e cicatrizes. Não consigo, e dificilmente conseguirei, viver relações que não sejam honestas e verdadeiras, mas vou dar na medida em que recebo, e não mais do que isso.
Ora, há muitos dias que por cá não passo. Aproveito o anoitecer de um Domingo cinzento para voltar às escritas, por alguns momentos. E é sobre a minha mãe que quero escrever. É claro que a minha mãe sempre foi a melhor do mundo, mas ultimamente isso tem sido ainda mais verdade (se é que é possível).
Tantas e tantas vezes na vida se anda com aquele tempo cinzento, de nuvens altas, como se diz na metereologia. Não chove, nem faz sol. E tantas e tantas vezes é preciso cair um paisano de água, como se diz na minha terra, para que o sol singre no céu. É mais ou menos assim...
A minha mãe foi comigo à discoteca, dançou sem parar até quase às 6h horas da manhã. Foi tanto o orgulho de ir de braço dado com ela, que apetecia roubar o microfone e dizer: Esta é a minha mãe. Admiro-a e amo-a do fundo da minha alma! Nunca lho disse... não sei se algum dia o conseguirei dizer, mas é sem dúvida o que sinto!
E na quinta-feira passada, dia temido para os soltários, ofuscados pelos corações omnipresentes, eu tinha uma prenda em cima da minha cama. E lá estava a minha mãe de novo a comportar-se como a melhor de todas as mães...