Geração do início dos 80. O BI marca meio caminho entre os 20 e os 30 anos. A infância e adolescência floresceram em tempos de abundância. Caprichos, ainda com dois zeros depois do cifrão, eram satisfeitos com mais ou menos vontade, pela ânsia parental de poder dar muito mais do que a sua juventude lhes permitiu ter. Atravessa-se o milénio. Deixam-se, por alguns anos, os fatos de treino, as meias brancas, as saias calças e as camisolas com chumaços robóticos. A poupa cede à gravidade e o exagero do desbastado descansa mais perto do escalpo. A vida prossegue, com o solavanco europeu. Morre o cifrão e, miraculosamente, o € dobra o valor da bica (a bica é sempre um bom ponto de referência em questões de inflação). Início da idade adulta. "Estuda se queres ser alguém na vida, estuda", frase batida ao longo dos tempos. E nós estudámos! Básico, Secundário, Universidade... Com mais ou menos brio, durante mais ou menos tempo, vivendo mais de dia ou mais à noite, nós estudámos. Cumprimos o nosso sonho e o sonho do pai, da mãe, dos avós. Um dia, unem-se em nosso redor e aplaudem-nos, enquanto abanamos a pasta colorida pelas tantas fitas de cetim. Fecha-se um ciclo. Outro se inicia. Pega-se na pasta e substituem-se as fitas pelas folhas de papel certificadas, carimbadas, provas inequívocas dos anos de qualificação, das competências adquiridas. Segue-se o quotidiano dos jornais, internet, correios, contactos, contactos dos contactos, contactos dos contactos dos contactos, não vá lá pelo meio sobrar um favorzinho para nos aconchegar a certificação. As respostas chegam no silêncio do telemóvel que não toca, do carteiro que insiste em não trazer uma carta que possa tornar os dias menos longos. Entretanto, as portas de casa voltaram a escancarar-se para o filho retornado, e os cordões da bolsa parental, sobejamente fustigados, abrem-se uma vez mais. A páginas tantas, ajuda-se a corromper mais um pouco o sistema: aceitam-se voluntariados para ganhar experiência, ocultam-se habilitações para preencher uma vaga num qualquer centro comercial (que hoje são, possivelmente, dos sítios com maiores qualificações acumuladas), trabalha-se a recibos verdes (ironicamente, a cor da esperança) e percebe-se finalmente o significado da precariedade... Chega ao paladar o azedo da frustração, e da injustiça da escolha entre lutar pelo nosso canudo, ou simplesmente baixar as armas e tentar arranjar o emprego mais seguro que se conseguir. Valha-nos a juventude, o sonho, a esperança, a perseverança e a polivalência.
"Estuda, se queres ser alguém na vida" sempre ouvi dizer. E eu estudei!
Até há bem pouco tempo, a única música que conhecia dedicada a uma homónima era mesmo aquele hit da minha infância, com a bonita letra "Isabel pra cá, Isabel pra lá, Isabel, Isabel oh oh oh, lá lá lá", da qual eu era vítima e, impiedosamente, ia "pra cá e pra lá", ao sabor dos empurrões dos amigos graçolas, nos Domingos curvos pela serra algarvia.
Daí estar fascinada com esta nova visão do meu nome. Penso que, dado o passado traumático, é legítimo este rasgo de egocentrismo...
E digo mais: um homem que me diga um dia um Isabel assim, leva-me ao altar! :)