Tendemos sempre para o equilíbrio, por mais desequilibrados que sejamos. Precisamos dele para nos mantermos na vertical, para caminhar para a frente (e para trás). Cada um tem o seu centro de gravidade, o seu vértice perfeito, a sua forma de andar. Mas o equilíbrio, como tudo, só existe quando há o seu antagónico. E a vida é perita em fazer-nos abalar as estruturas e pôr à prova a nossa capacidade de voltar ao centro.
São pessoas que chegam e fazem-nos tremer; são outras que partem e deixam-nos abalados como se tivesse passado uma rajada de vento; são os dias intermináveis, que nos fazem curvar, minguar e quase cair; são as decisões dificeis de tomar, as escolhas dificeis de fazer, que nos deixam como aquelas mesas de esplanada com uma perna mais curta, debaixo da qual colocamos um papel dobrado em muitos bocadinhos; são as eternas dúvidas, as esperas demoradas, os sonhos por cumprir, que nos poêm o pé à frente, só para ver se tropeçamos; são os sentimentos, as emoções e os novelos de pensamentos, que nos sacodem e fazem fraquejar as pernas....
Mas, por mais bambos que a vida nos deixe, há sempre momentos assim, como uma tarde passada à beira mar, com o sol a queimar a pele pouco coberta para a altura do ano, mas quase demasiado tapada para a temperatura que se faz sentir, os pés na areia, o sol a reflecir no mar, o céu azul e aquela sensação de que a vida é perfeita. Inspira-se e parece que tudo volta ao seu devido lugar, à harmonia total. E o inatingível equilíbrio está logo aqui, em mim.
Com todas as excepções que me são permitidas, a cada dia me sinto melhor. E hoje estou, simplesmente, bem!
É mais ou menos isto.... mas ao contrário! :)
Bem, só pela música já valia a pena este vídeo. Juntando esta coisa das cartas fica melhor, apesar do senhor ilusionista ter ali uma combinação de cores de gosto discutível :) enjoy it
Tenho carta de condução de ligeiros desde os 18 anos e antes disso, aos 16, tirei a carta de motociclos até 125. Portanto, foi há sensivelmente 10 anos que começou uma espécie de relação triangular de amor/ódio entre a minha pessoa, os meios motorizados de transporte (felizmente nunca fui apanhada a transgredir na bicicleta a pedal) e os agentes da autoridade.
Ainda me lembro de ir eu e a minha amiga Bichinha, ainda antes da maioridade, na saudosa famel cor de rosa choc, por aquelas estradas onde simplesmente não se vê vivalma. Mas nós estávamos lá, e curiosamente sem documentos. E obviamente que tinha que aparecer o nissan patrol verde seco, com a sigla GNR, e sim, só por marotice, tinha que nos mandar parar, tinha que gozar um bocadinho o prato, pedir documentos, assustar com o "vou ter que a autuar" e no fim deixar-nos ir embora dizendo "vá, vá lá embora, antes que isso vá abaixo". E nesse preciso momento, engato a 1ª das 3 mudanças, acelero e guino para a valeta, como quem diz "mesmo agora me espeto aqui, só para mostrar que faço oitos disto!"
Depois chegou a viatura automóvel, e os limites de velocidade começaram a perseguir-me. A primeira vez foi ali perto de Ourique. Ainda não tinha os 2 anos de carta, conduzia um carro comercial que tinha o estúpido limite de velocidade de 80km/h. Fui apanhada a 121Km/h (não me esqueço do número). Penso que desta vez foi mesmo a BT. Ainda fizeram piadolas, do estilo "então vinha embalada da descida não?!" e lá prosseguiram com a velha história "os seus documentos e os documentos da viatura por favor". Lembro-me de ter ficado tão nervosa, que no fim ainda pedi desculpas aos senhores!
De excesso de velocidade foram mais 2. Uma a minha sempre disponível mãezinha lá ficou com ela, a outra ficou para mim. Ainda houve um sentido proíbido, e 'tá claro que a acumulação de pontos negativos deu-me 2 felizes meses sem poder conduzir, onde pude usufruir da fantástica rede de transportes públicos que serve S. Brás de Alportel!
Tive o famoso episódio com a corpo de intervenção que está descrito ao pormenor aqui.
E chegámos à parte do estacionamento. Não será muito provável que os estimados leitores vejam o meu mostarda dijon estacionado em sítios proibidos, ou em cima de passeio. Embora não possa dizer que nunca o tenha feito, é contra os meus princípios, pois se há coisa que respeito são as acessibilidades. No entanto, não são raras as vezes que estaciono em parque pago e não ponho ticket ou deixo passar o tempo e depois não pago a coima passada pelos senhores da EMEL, mas de Faro. Ora esta rebeldia já me valeu dois bloqueios. E apesar de concordar que as fitas amarelas não vão mal de todo com o dourado da minha viatura, torna-se maçador que uma coisa que me podia ter custado 1 ou 2 euros, inflacione para os 70€.
E pronto, chegámos finalmente à passada quinta feira, dia 8 de Outubro. Pois diz que o dia começou ruinzinho, com uma amigdalite a moer-me a garganta, o ouvido e já a passar para o lado direito da cabeça. Fui logo ao senhor doutor, que me receitou antibióticos, analgésicos e afins. E talvez estas drogas justifiquem a minha atitude tão passiva. Ora, na parte da tarde eu tinha outra consulta, e no momento em que estacionei o carro já estava 10 minutos atrasada e ainda estava longe do sitio. Pensei de mim para mim "hum, isto é só uma horinha, pode ser que me safe" e lá fui airosa, sem ter posto o ticket. Quando regressei lá estava o dourado, ainda mais amarelo, já sendo alvo de comentários por parte dos transeuntes. Liguei calmamente para o número e pedi "por favor, era para me virem desbloquear o carro, que está aqui na doca". E sentei-me a aproveitar aquele tão bonito fim de tarde com vista para a Ria Formosa. Eis que vejo ao longe o senhor Policia, juntamente com um dos senhores mais odiosos do mundo da EMEL de Faro (eu sei que EMEL é só em Lisboa, mas gosto desta designação). Como da última vez que me vieram desbloquear o carro, vinham de reboque, pensei que aqueles dois ainda não fossem para mim. Fiz-me despercebida, mas quando vi que o PSP já estava a comunicar, lá me dirigi e aí começou o rol de parvoíce. O Agente pergunta-me "você é da viatura" e eu respondo "não, não, a viatura é que é minha", só assim para quebrar o gelo. Daí ele diz-me o tradicional "pois, vou ter que a autuar", e eu digo "sim, claro, e quanto é a minha conta?" e ele diz-me "são 30€". Ora como já sou batida nestas coisas disse-lhe "sim, 30 € de multa, mas depois ainda tenho que pagar para desbloquear" e aí o EMEL ajudou "sim são mais 30€ de para desbloquear e se quiser também pode pagar os recibos de estacionamento que tem em atraso". O policia para se tentar afirmar lá diz "ah, ainda por cima é reincidente!". Digo eu "bem, então esperem só um bocadinho que vou ali levantar dinheiro", e lá fui, na paz. Quando regressei lá estava o Agente todo atarefado a preencher os 1500 documentos que tem que preencher, e foi aí que começou a nossa relação quase terapêutica. Nitidamente eles estavam mais nervosos do que eu. O EMEL era uma doce de pessoa e ainda por cima gaguejava, o que dá logo um ar frágil. Quase me pediu desculpas por ter passado por ali naquele momento e por me ter mandado bloquear o carro. O policia começou a desabafar, dizendo que era a primeira vez que passava uma multa daquelas e que não gostava nada daquele serviço. Foi ao manual ver os códigos e letras e sei lá mais o quê. E eu, que parecia que tinha fumado coisas ilegais, só me ria e tentava confortá-lo dizendo "ah, deixe lá, até teve sorte que eu não sou muito mau feitio e já estou habituada a estas lides". E ele, entre a atrapalhação dos papeis, dizia-me "olhe que eu não vou dormir esta noite, com esta multa que lhe estou a passar. Detesto fazer isto. Em 18 anos de polícia, deve ser aí a décima multa que passo. Isto é só um gratificado que estou a fazer. Eu faço parte da divisão de crime...". E sim, eu tive que acalmar o senhor e dizer "deixe lá, eu é que transgredi, você só está a fazer o seu trabalho", entre outras coisas do género, para ver se o homem não começava ali a chorar. Moral da história: eu tive que pagar 74€ e qualquer coisa, e ainda tive que consolar aquela alma!
E é por estas e por outras que eu continuo irremediavelmente atraída por homens de fardas, mesmo com todo o dinheiro que já me levaram! :)
a) "Pela boca morre o peixe" (provérbio popular) Confere! Tenho sempre uma lucidez fantástica, e um bom senso de fazer inveja a qualquer guru, quando se trata de mandar pitafes sobre a vida dos outros. Sei sempre melhor o que não quero ser, o que não quero fazer, o que não quero dizer, porque vejo isso nos outros e, vá de reto Satanás, eu nunca faria uma coisa daquelas. Pois não... Ai, ai, é nessas alturas, aquelas em que faço coisas que "nunca iria fazer na vida" que devia cair aquelas úteis bigornas dos desenhos animados, mesmo em cima da minha cabeça.
b) Se há coisas boas em morar no Algarve, uma delas é isto: poder estar na noite de dia 3 de Outubro, com pessoas de quem se gosta, debaixo de uma lua majestosa, com os pés na areia fresquinha, com clima ameno o suficiente para um vestido de alças, a dançar como se não estivesse ninguém a ver.
c) O meu prédio é uma caixinha com 8 andares carregadinhos de surpresas. Desde o presidente da Junta, até ao ginecologista acusado de assédio, passando pelo perturbado que atira pão duro para as escadas e faz xixi pela janela e pelos utentes do centro de dia da Santa Casa da Misericórdia, cuja média de idades andará por volta dos 120 anos, somos todos protagonistas de episódios dignos de registo. Dos últmos foi mesmo alguém que resolveu que o elevador seria um óptimo sitio para defecar, e sim, permaneceu lá o... vamos lá... cagalhão, durante 5 dias, sendo que durante este tempo foi dividido em porções que depois apareciam no patamar das escadas e na rua, mesmo em frente à entrada. Bem, é uma coisa chata, mas ultrapassável. Refrescante mesmo é ontem ter-me deitado às quase 7h da manhã e acordar hoje, antes de prefazer as 8h de sono de beleza, com os gemidos de prazer do casal de meia idade do 4 andar. O amor é lindo, e reconheço que com som é muito mais excitante, mas realmente não é agradável acordar assim.
d) Ninguém com o nome de Abúndio deveria poder candidatar-se a cargos públicos.
e) Acho que deveríamos ter implantado a república mais vezes, e fazer com que calhasse sempre à segunda! Este prolonagamento está a saber-me pela vida.
E acho que é isto.