Terça-feira, 27 de Abril de 2010

Gosto particularmente de pessoas que dão uma no cravo, outra na ferradura.

 

Senão vejamos: estava numa escola e assim que lá cheguei para procurar uma sala, a contínua, que já me conhece de tantas vezes que lá fui, faz logo uma entrada a pés juntos "pois, as pessoas que têm aulas à noite deixam sempre as cadeiras fora do lugar, não sabem deixar a sala como encontram. Desculpe lá dizer-lhe isto a si, que nem tem culpa, mas é verdade, de manhã 'tá sempre tudo desarrumado". Baixo as orelhinhas, digo "vou falar com os meus colegas para fazer lembrar as pessoas de arrumar a sala" e vou à vidinha.

 

Passados uns 40 min, vinha do café e a mesma funcionária encontra-me no corredor e diz: 'tá muito mais magra desde a última vez que a tinha visto cá" e eu respondo o tipico "ai quem me dera, mas não estou não" mas ela continua "está está!". E de repente tenho o dia ganho.

 

E pronto, meus amigos e amigas, isto funciona particularmente com mulheres. Podem dizer-nos que nos odeiam e que eram capazes de nos retirar os órgãos, vender e comprar uma casa na praia, e que metiam o resto do corpo num saco do lixo e atiravam para um monte de esterco. Se a seguir nos disserem "mas tás mais magra", mesmo que seja completamente mentira, tudo o resto deixa de ter qualquer importância! :)




Segunda-feira, 26 de Abril de 2010

Eu acredito nas pessoas, acredito no que me dizem, no que me mostram, na forma como agem comigo.

Acredito nas pessoas e gostava muito que me deixassem continuar a acreditar, porque não sei ser desconfiada, porque por mais que me desiludam, eu nunca fico com o pé atrás.

Eu preciso de continuar a acreditar nas pessoas, porque já não acredito em Deus e porque toda a gente precisa de acreditar em alguma coisa.

Eu acredito nas pessoas.

 

Agradeço que não me iludam, não me enganem e não me façam acreditar em vão...




Domingo, 18 de Abril de 2010

"Wouldn't you like to be loved by me?" Revolutionary Road

 

"Quanto mais faço amor, mais vontade tenho de fazer a revolução (e vice versa)" France, 1968


cheira-me que estou... em TPM


Domingo, 4 de Abril de 2010

Não era suposto ter acontecido, mas aconteceu

 

Não era suposto ter-me marcado, mas marcou

 

Não era suposto lembrar-me do teu nome, mas lembro-me,

 

Não era suposto esperar reencontrar-te, mas espero

 

Não era suposto deixar a minha imaginação entregue ao teu cheiro e ao teu toque, mas deixo

 

Não era suposto sentir o coração apertado enquanto engulo em seco a tua ausência, mas sinto

 

Não era suposto andares às voltas na minha cabeça, mas andas

 

Não era suposto deixar-me levar, mas deixei-me....

 

...contigo

 

 



apoquentado por Béu às 21:13 | linque da apoquentação | mandar pitafe

Sexta-feira, 2 de Abril de 2010

(...)Foi então que o seu amigo Pátrocles implorou a Aquiles que lhe emprestasse a armadura e que o deixasse conduzir os Mirmidónes, no que Aquiles consentiu. Pátroclesfoi morto pelo príncipe troiano Heitor, e Aquiles voltou à batalha para vingar o amigo, matando Heitor. Depois liderou os Gregos para mais um ataque às muralhas de Tróia, sendo atingido mortalmente por Páris, irmão de Heitor, com uma seta, que, guiada por Apolo, atingiu o calcanhar de Aquiles. (...) in https://www.infopedia.pt/$lenda-de-aquiles

 

Toda a gente tem um destes, que normalmente não é suficiente para matar (felizmente), mas que mói, e dói e desgasta. Depois há todos os outros calcanhares de Aquiles mais pontuais, que aparecem e desaparecem, e não têm o cariz de permanência e a carga da eternidade. Mas não é desses que quero "falar" hoje. Porque "falar" ou escrever pode ser terapêutico, hoje eu quero fazê-lo acerca do MEU calcanhar de Aquiles. Aquele que me lembro desde sempre, aquela seta escondida entre o osso e a carne, que dói quando se calca, e com a qual acaba por se aprender a andar, porque, caso contrário, teríamos que ficar imobilizados.

 

Este post estava em rascunho deste o fim do mês de Janeiro. Fiquei presa nele e já não consegui escrever grande coisa. Escrever sobre o meu calcanhar de Aquiles bloqueia-me ...

 

Mas comecemos pelo início, mesmo lá nos primeiros tempos, em que encetamos a consciência de nós próprios e dos outros; vou até onde a memória chega, no tempo em que percebi que há um corpo que nos permite estar neste mundo. Não sei se acontece com toda a gente, mas do que me lembro, não foram o espelho, ou o reflexo nos vidros, que me permitiram reconhecer as minhas formas neste mundo. O meu espelho e os meus reflexos foram as frases, tantas vezes ouvidas, dos grandes, que diziam "oh tão gordinha" "ai que forte que ela é, sai ao pai"ou "ai que redondinha, que bela moça"... Não me lembro de me elogiarem o cabelo loiro cheio de canudos, os olhos castanhos esverdeados ou o sorriso rasgado (o que não quer dizer que não o tenham feito, mas a memória é selectiva e muitas vezes escolhe errado o que guarda).

E cresci assim, como a menina gordinha, igualita ao pai, e que comia tão bem! Aos 6 anos nasceu a minha irmã, e nasceu magra. A relativização e a comparação entre irmãs adensou os comentários. A mana era a modelo e eu continuava a ser a fortezinha.

 

Aprendi a baixar a cabeça e a sentir-me mais pequenina por dentro, porque era maior por fora. Habituei-me a não gostar de mim, mas a gostar muito de comer. E comia, comia, comia... Almoçava várias vezes, em várias casas, no mesmo dia e devorava bolachas de chocolate enquanto via a novela. As opiniões dos grandes dividiam-se e deixavam-me confusa: uns diziam que era bom comer tão bem e achavam graça ao apetite da menina; outros continuavam a achar que estava gorda, ou forte (o típico eufemismo para os gordos).

Entrei na adolescência e comecei a comer menos. No entanto, a mentalidade manteve-se. Emagreci sem esforço e sem perceber, porque para mim era e sempre seria forte. Hoje, quando me vejo em fotografias antigas percebo o quanto estava deturpada. Não, nunca fui magra, mas também não era gorda, nem forte. Mas eu tinha aprendido a sê-lo, essa era a minha forma de estar no mundo e não sabia fazê-lo de outra forma. Perdi muita coisa pelos complexos que tinha entranhados, que me angustiavam a existência. Sempre achei totalmente impossível alguém se interessar por mim, despertar desejo ou atracção era tão impensável como usar biquini. A barriga era o centro do meu mundo, não por lá se encontrar o umbigo, mas porque era grande, gorda e branca. E eu abominava-a a ela e a todo o corpo que se desenvolvia a partir dela. Podia ficar aqui linhas sem fim a escrever o que não vivi porque não me dei esse direito, ou porque só o iria viver quando estivesse mais magra. Mas não vou fazê-lo.

 

Chega a Universidade e chegam efectivamente, os distúrbios alimentares. Porque distúrbio alimentar não são só as mediáticas anorexia e bulimia. Existem outros para além destes, e o meu chama-se compulsão alimentar. É uma espécie de bulimia, mas sem vómito. É uma total perda de controlo perante a comida, em que se come tudo ao que se possa ter acesso e se for necessário vai-se comprar mais comida a qualquer sitio, a qualquer hora. Lembro de comprar caixas de donuts e madalenas de laranja, antes de sair de Évora, e em Portel já tinha comido tudo. Depois parava no Modelo de Beja e comprava mais doces ou salgados ou até os dois, e continuava a comer o resto da viagem. Tentei muitas vezes vomitar e nunca consegui. Desejei tanto ser anorética, tomei laxantes, e nos dias seguintes tentava não comer quase nada. Mas mais tarde ou mais cedo voltava a ter uma crise. Podiam ser dias de seguida, podiam ser várias vezes por semana, podia ser de tantas formas...

Engordei cerca de 10kg durante o primeiro ano, de forma rápida. Razões para o descontrolo... não sei! Talvez a adaptação, talvez a novidade, talvez o ter que construir o meu mundo sozinha... No fundo, não preciso de razões concretas ou conscientes para compensar a tristeza, a angústia, a solidão, a preocupação, ou por vezes nenhuma destas coisas, com um armário cheio de porcarias comestíveis.

Embora eu tivesse vergonha de existir no meu corpo (e isto dói só de pensar, quanto mais escrever) consegui não deixar nunca que isso afectasse as minhas amizades. Por um milagre, eu continuava a conseguir ter amigos, cuidar deles e das nossas relações, e a sair, a divertir-me. Os complexas sempre lá estiveram, mas era como aquelas dores de cabeça que latejam permanentemente, mas que não nos impedem de trabalhar. O mesmo não acontecia relativamente às relações amorosas. Este continuava a ser terreno proibido para alguém com peso acima do que deveria ter. E apesar de uma ou outra experiência que foi tentando mostrar o contrário, relações, flirts e afins eram coisas que guardava, quase religiosamente, para quando fosse magra.

Sempre lutei contra isto, nunca me resignei ao peso, nunca lidei com a questão de ânimo leve. Metade da minha vida era em dieta, a outra metade a comer descontroladamente. Pouco era o tempo de equilíbrio. Entretanto fiz alguns regimes bem sucedidos, depois dos quais engordava, mas sempre de forma diferente, e isso foi-me dando um pouco mais de auto-estima.

 

Agora estou na longa aprendizagem de me amar fisicamente, tal e qual como estou, mesmo que esteja com mais 10kg do que deveria estar. Isto não significa não querer perder-los, ou não me esforçar por isso. Significa sim nunca mais baixar a cabeça, nunca mais vestir as calças de fato de treino e a maldita blusa de malha polar que me acompanha desde o 9º ano, para as alturas de crise, quando não tenho roupa nenhuma que me sirva, e não me apetece, simplesmente, existir. Aceitar-me significa não adiar mais nada na minha vida porque tenho peso a mais, significa ser grata pelo corpo que tenho, por tudo aquilo que ele me permite e amar-me acima de qualquer outra coisa ou pessoa. E significa também encarar os quilos que engordei, encarar as noites em que me deito a abarrotar, em que acordo, penso no que fiz, e não consigo mais dormir; encarar as fotografias com a cara ainda mais redonda; encarar os olhares, as frases e até os pensamentos que imagino que os outros têm acerca de mim (porque eu também os tenho acerca dos outros); encarar os dias de desespero e de frustração, em que o choro parece que me arranca as entranhas, porque esta é um luta tão dura, e dura há tanto tempo....

 

Lutar contra uma coisa tão natural como a comida é profundamente difícil, porque temos que achar o equilíbrio. Um fumador não precisa de tabaco para viver, um toxicodependente sobrevive sem droga, um viciado em jogo é saudável sem o jogo. Os mecanismos do vicio, da adição, das crises e das recaídas são os mesmos. Mas os "viciados" em comida não podem viver sem comer. E por isso nós temos que enfrentar o nosso "monstro" a todas as horas do dia, 365 dias por ano. E, como qualquer "viciado", temos que fazer face à incompreensão das frases feitas dos outros: "come só um bocadinho. Um bocadinho não te vai fazer mal", ok, mas eu não consigo comer só um bocadinho, porque sei que depois daquele bocadinho me vai apetecer muito mais; "mas como é que não te consegues controlar? Basta teres força de vontade" pois... muitas vezes não basta ter força de vontade. E todos os clichès ditos pelos outros, de forma mais maldosa, ou com a melhor das intenções, são agulhas, são facas, são estalos... são dor. E a dor faz-nos comer, porque por minutos, o prazer da comida distrai essa mágoa, porque por momentos o vazio é cheio. Não suportar a forma como se existe no mundo é inexplicavelmente doloroso. Saber que mudar isso depende quase exclusivamente de nós é ainda mais. Para quem não percebe é simples... Para mim também seria simples dizer a um esquizofrénico que aquelas vozes não existem, dizer a um fumador que o tabaco deixa mau hálito, os dentes amarelos e a pele envelhecida, ou a um toxidependente que a droga é perfeitamente dispensável, ou que até a pode ter em quantidade moderadas, numa ou outra noite de loucura, e num fim, dizer a todos eles, "só é preciso força de vontade". E do que vale isto? Absolutamente nada!

 

Estou em terapia, e percebi que eu não preciso de força de vontade. Eu preciso tão simplesmente de gostar de mim! Dão-se muitos passo à frente e outros tantos atrás, mas hoje eu gosto de mim, mesmo com peso a mais. Hoje eu  não deixo que ninguém me convença que não sou bonita, porque sou. E não saio de casa sem pintar os olhos, desfiz-me dos sapatos rasos e ténis, bem como das calças largas e das blusas "my basics" todas iguais, mas de cores diferentes. Rio alto, como sempre gostei de fazer e uso decotes, estou-me nas tintas se dou nas vistas, por boas ou más razões. E já não faço ouvidos moucos ou sorrisos amarelos a quem me diz "estás mais gordinha", mas respondo à letra, porque tenho espelhos em casa e não tenho falta de vista. E acima de tudo quero viver tudo o que não vivi e não voltar a deixar nada para "quando estiver mais magra". Nem sempre estou em alta, isto não é verdade todos os dias, mas é na grande maioria deles, e um dia hei-se encontrar o meu equilíbrio e a paz de espírito que necessito, relativamente a este calcanhar de aquiles.

 

 

Este foi o post mais difícil de escrever, e vai ser o mais difícil de clicar em "publicar". Mas publico porque é uma das minhas formas de terapia, a escrita, e porque eventualmente haverá mais pessoas que se identifiquem com este texto. Mas essencialmente porque esta é mais uma forma de assumir o problema, e assumir o problema é lutar por encontrar uma solução! 




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