Terça-feira, 25 de Maio de 2010

Pergunta isto o grande mestre, Sérgio Godinho, numa das suas cantigas.

 

Penso que todos nós, em certos momentos, situações ou com determinadas pessoas, assumimos um Ser mais ou menos nosso conhecido, mais ou menos seguro, mas que não corresponde efectivamente à nossa essência. Consciente ou inconscientemente, acabamos por vestir roupas que não são as nossas. E muitas vezes elas até nos assentam que nem uma luva. Mas, inevitavelmente, chega uma altura em que começam a ser curtas nas mangas ou demasiado compridas nas pernas. Além de que, a noite chega e na hora de descansar a cabeça na almofada, é bom que o pijama seja mesmo à medida e nos permita dormir confortáveis e aconchegados. 

Quando a linha do "ser-se quem não se é" é transposta, ou nos tranformamos na máscara que usamos ou vivemos em permanente conflito, com o real e o imaginário a não saberem muito bem a quantas andam. E ninguém consegue ser feliz em guerra!

 

Já quis ser muita coisa, já perspectivei centenas de formas de me remodelar, de ser de outra maneira. Já fui magoada e até humilhada, e prometi que me iria sempre pôr à frente de qualquer outro Ser, que iria seguir as minhas vontades, rumar a meu belo prazer, sem me importar com as pessoas por quem passava; jurei a pés juntos que não voltaria a ficar para trás...

 

Felizmente ou infelizmente, eu não consigo ser quem não sou, e a bendita frase do principezinho continua permanentemente a lembrar-me que sempre acreditei piamente no ficas para sempre responsável por aquele que cativaste. Esta é que sou eu; tudo o resto aperta-me o peito e não me passa na cintura!

 

*


banda sonora do momento http://www.youtube.com/watch?v=Un0wY6bx_2g


Sexta-feira, 7 de Maio de 2010

"não queiras saber de mim

esta noite não estou cá

quando a tristeza bate

pior do que eu não há

 

Fico fora de combate

como se chegasse ao fim

fico abaixo do tapete

afundado no serrim

 

não queiras saber de mim

porque eu estou que não me entendo

danço tu que eu fico assim

hoje eu não me recomendo

 

mas tu pões esse vestido

e voas até ao topo

e fumas do meu cigarro

e bebes do meu copo

 

mas nem isso faz sentido

só agrava o meu estado

quanto mais brilho a tua luz

mais eu fico apagado

 

danço tu que eu fico assim

porque eu estou que não me entendo

não querias saber de mim

hoje eu não me recomendo

 

amanhã eu sei, já passa

mas agora estou assim

hoje perdi toda a graça

não queiras saber de mim"

Rui veloso/Carlos Tê 

 


cheira-me que estou... não recomendável


Domingo, 2 de Maio de 2010

Há muito que quero escrever sobre a minha família, passando pelos vários elementos que a constituem e pelas fantásticas dinâmicas que a agitam (e devo isso ao meu fã e primo Will, que vem a estas bandas, lê os posts e depois faz-me o obséquio de os comentar nos almoços de Domingo). No entanto, sinto essa missão como algo épico, que exige um rasgo brutal de inspiração, porque para pôr a minha família em palavras, não pode ser um acto de ânimo leve. Além disso, não quero cair no registo lamechas, para o qual facilmente resvalo, porque a verdade é que nós somos bastante divertidos; como tal, no máximo poderá ser um registo melodramático.

 

Serve este preâmbulo para dizer que não é hoje que vou enfrentar este desafio.

 

No entanto, comemora-se o dia da mãe...

 

Obviamente que a minha mãe é a melhor do mundo, e quanto a isso não há qualquer tipo de dúvida. E a mãe da minha mãe, é a melhor segunda mãe do mundo, com o mesmo grau de certeza. Foram as duas mulheres que me criaram e continuam a criar, porque eu acho que nunca vou estar completamente criada! Quando uma atingia aquele limite do desespero e me ia pôr na cozinha porque não aguentava mais o meu choro despropositado, a outra ia lá buscar-me, com as mãos mais enrugadas e com a paciência que os anos vão conferindo; faziam-me chá da papoila roxa (sim, a papoila do ópio) para me acalmar a birra; iam comigo apanhar as nêsperas, ameixas e figos, que comíamos directamente da árvore, quentinhos do sol; uma faz-me carapaus alimados e bife de atum de cebolada e a outra faz-me papas de milho com sardinhas e guarda-me uma taça de massa de pão quando eu não estou em casa na hora de amassar; levaram-me a apanhar amêndoas, azeitonas e alfarrobas, a lavar a sacas no ribeiro e a apanhar boas noites para as galinhas; deixaram-me ordenhar a cabra moncha; aturam-me sempre o mau feitio, a bruteza, as respostas tortas, a adolescência e o prolongamento desta; foram elas que me deixaram em Évora, no início de uma nova vida, e foi ao vê-las partir naquela dia que chorei. São as duas mulheres que mais admiro nesta minha existência.

 

A minha mãe é o protótipo de boa pessoa, até demais na minha modesta opinião. Sempre me mostrou, sem grande sacrifício, os melhores valores que uma pessoa pode ter. As portas de casa estiveram sempre tão abertas como a nossa alma. Não me lembro de nenhum tipo de preconceito ou discriminação contra quem quer que fosse. Quem chegasse lá a casa, e chegou sempre muita gente, era Benvindo, até mesmo quando não vinha por bem. Ensinou-me que eu nunca lhe precisaria de mentir, mas também não era necessário contar-lhe tudo. Deu-me toda a liberdade e mostrou-me que eu a merecia porque ela confiava em mim. Aceitou sempre as minhas decisões, apoiou-me e apoia-me incondicionalmente nas minhas escolhas. Foi comigo para a discoteca, vestida de ovelha, e acompanha-me nos bailes de carnaval. Defende-me nos ajuntamentos de família, quando há sempre alguém que se lembra de perguntar quando me caso e lhe dou netos, a quem ela responde "deixe lá que ela está muito bem assim como está". E ri-se com as minhas aventuras e desventuras, ri-se em sonoras gargalhadas, e isso também aprendi com ela, que não tem mal nenhum rir alto.

 

A minha avó é o que eu chamo uma verdadeira matriarca. É a mulher com mais fibra que eu conheço, um pilar para todos nós. Daquelas mulheres que passaram por muita coisa, sofrimento qb, mas que não endureceram, que não se tornaram amargas ou de mal com a vida. Outra pessoa de espírito aberto, embora disfarce com o lenço na cabeça a cobrir o cabelo totalmente branco e saia por baixo do joelho, sempre. Aprendeu, depois dos 60 e tal anos, a viajar sempre que pode; tem menos medo de andar de avião do que eu; passeou pelo Moulin Rouge e andou de carros de cesto e teleférico; anda todos os dias de bicicleta e sobe às árvores, mas ninguém a faz pôr um pé numa escada rolante; acha piada aos estrangeiros (couchsurfers) que levo lá a casa aos almoços de domingo, e tenta gesticular com eles de modo a que possa haver algum tipo de comunicação; e faz parte da partilha de avós, aquela que fazemos com os amigos de infância, em que todos acabamos por partilhar um bocadinho da família uns dos outros.

 

Estas são os pares de cromossomas XX da minha vida. A elas, todos os dias em geral, e o dia de hoje em particular.




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