As férias já lá vão a bem mais de meio. Vão, obviamente, saber a pouco. Mas estas foram bem merecidas. A embrulhadas dos censos, misturada com um volume de trabalho jeitoso, quase que me fizeram desesperar. Quase...
Mas a missão foi cumprinda e está arrumada. O meu Alentejo serviu para repor energias e para muito descanso. Agora um bocadinho de cidade e mais um passinho em direcção ao sonho. Isto, misturado com muitos amigos, cai que nem ginjas para que os tempos dificeis se vão dissipando. E Maio está à porta, trazendo consigo belas noites de concertos e já algum calor. Valha-nos isso! E a vida vai correndo ao seu ritmo...
A cada desilusão eu prometo que é a última, que não me vão voltar a iludir.
A cada surra, eu prometo que nunca mais me hão-de apanhar.
A cada mentira e falsidade eu prometo que vou estar mais atenta e que não volto a confiar cegamente nas pessoas.
Se algum dia eu conseguir cumprir aquilo que prometo, deixarei de ser eu...
Mas nos dias como o de hoje, era o que eu mais queria. Isso e embarcar amanhã para o outro lado do mundo e começar tudo de novo!
As pessoas, às vezes, não prestam...
Se me perguntassem qual é o meu maior objectivo na passagem pela terra, eu responderia, sem sombra de dúvida, ter histórias para contar. Chegar ao fim do meu tempo por cá (de preferência muito muito velhinha) e ter muitas histórias para contar. Histórias que pudessem de alguma forma mostrar que a vida é demasiado intensa para nos deixarmos intimidar por limites toscos, que muitas vezes são impostos por outros, por medos infundados ou por puro comodismo. Quando penso nisto, lembro-me sempre em duas situações. Penso na minha avó já falecida, que ficou senil depois de uma operação e que falava metade do tempo em fazer o jantar e ir para a horta e a outra metade em bórdeis e ir com homens para trás das moitas. De alguma forma, dentro do contexto de ser-se mulher em S. Brás de Alportel há 60 anos atrás, parece-me que ela ainda deve ter feito umas maluquices, pelo menos com o meu avô :) E penso numa conversa que tive, há uns aninhos atrás com uma amiga, em que ela me dizia que nós éramos de facto privilegiadas por viver nos tempos de hoje e até no país em que vivemos, porque nos é permitido fazer tudo, podemos ser o que quisermos e viver tantas e tantas coisas.
Também me acomodo, claro que sim. Também já me deixei intimidar pelas pressões sociais, também já me limitei pelos meus complexos, também já perdi pelo medo e pelo receio. Mas tento ultrapassar-me sempre, umas vezes com muito esforço, outras só com um empurrãozinho. Há quem diga com orgulho "sou assim e nunca vou mudar". Eu digo com o mesmo orgulho "sou assim, gosto muito de mim, mas se for para ficar melhor, mudo". Quando penso no que era há uns anos atrás e no que sou agora, não posso deixar de me sentir bem, de me sentir orgulhosa. Ultrapassei muitos obstáculos, na sua maioria criados por mim. Pode parecer fácil ultrapassar barreiras criadas por nós, mas são dificeis; não dá para culpar ninguém a não ser o próprio. É um caminho que se faz a andar, sem dúvida. E luta-se muito. Mas quando se olha para o passado e para o presente, vale a pena.
É como uma casa remodelada, em que a estrutura se mantém, mas muda-se a decoração. Quando se entra continua a saber-se onde é a sala, o quarto ou a cozinha, mas mudaram-se os cortinados, pintaram-se as paredes, tiraram-se os cães de loiça, o menino da lágrima e o candelabro. Ficou melhor, mas o trabalho está sempre inacabado, porque há sempre algo a melhorar :)
E isto tudo para dizer que ontem superei-me uma vez mais. Lá fui saltar de pára-quedas. Saliente-se que eu tenho medo de andar de avião, e para quem padece deste mal, ver pessoas a saírem disparadas a 4200m de altura não foi pêra doce. Especialmente porque a seguir fui eu... As horas antes são agridoces. Dá aquele nervoso ao qual parece que não vou sobreviver, a prisão de ventre fica esquecida por um tempo, há entusiasmo, as mãos não param de suar... and so on. E depois lá vamos para dentro daqueles aviõezinhos que parecem de brincar e sobe, sobe sobe. Abre-se a porta, e puff, queda livre durante um minuto. Logo quando saí, esqueci-me da pernas baralhei-me toda com a posição. Mas depois a coisa compôs-se e era só ar, ar e mais ar. E o verde da planície lá em baixo. Não há pensamento, acho eu. Ou pelo menos não me lembro. Entretanto o pára-quedas abre e tudo faz sentido. Eu acho que me senti mais segura no pára-quedas do que a andar de avião. Está-se lá em cima, desfruta-se da magnifica paisagem, do ar que é diferente e parece que nada pode correr mal. O pássaros são uns privilegiados, sem dúvida.
Se alguém tiver vontade e uma pontinha de dúvida, esqueça a dúvida. E se tiver dúvida e um pontinha de vontade, esqueça a dúvida também. Voar é fantástico!
E soma-se mais um história para contar!
"As gigantes loucuras são as mais sensatas de todas. O que fazemos hoje deixamos de recordação para os que amanhã queiram ser como nós: talvez loucos, porém felizes"
By post it que tenho pregado ao ecrã do computador, escrito pela minha cornermate
Que a força do medo que tenho
não me impeça de ver o que anseio
que a morte de tudo em que acredito
não me tape os ouvidos e a boca
porque metade de mim é o que eu grito
mas a outra metade é silêncio.
Que a música que ouço ao longe
seja linda ainda que tristeza
que a mulher que amo seja pra sempre amada
mesmo que distante
porque metade de mim é partida
mas a outra metade é saudade.
Que as palavras que eu falo
não sejam ouvidas como prece
e nem repetidas com fervor
apenas respeitadas
como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimentos
porque metade de mim é o que ouço
mas a outra metade é o que calo.
Que essa minha vontade de ir embora
se transforme na calma e na paz que eu mereço
e que essa tensão que me corrói por dentro
seja um dia recompensada
porque metade de mim é o que penso
mas a outra metade é um vulcão.
Que o medo da solidão se afaste
e que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável
que o espelho reflita em meu rosto num doce sorriso
que eu me lembro ter dado na infância
porque metade de mim é a lembrança do que fui
a outra metade não sei.
Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
pra me fazer aquietar o espírito
e que o teu silêncio me fale cada vez mais
porque metade de mim é abrigo
mas a outra metade é cansaço.
Que a arte nos aponte uma resposta
mesmo que ela não saiba
e que ninguém a tente complicar
porque é preciso simplicidade pra fazê-la florescer
porque metade de mim é platéia
e a outra metade é canção.
E que a minha loucura seja perdoada
porque metade de mim é amor
e a outra metade também
Oswaldo Montenegro - Metade
... mas daqui a pouco passa.
Nos entretantos vou desopilando de forma muitissimo lamechas e até quase a roçar o ridiculo. Mas estas coisas são mesmo assim...