Viagem a Paris: 13-17/03/2008
Começo a absorver as pessoas que se movimentam nos aeroportos, a imaginar o que há na sua bagagem, como é a sua vida, as pessoas que nitidamente se percebe que viajam frequentemente, porque o fazem, como começaram a fazê-lo, o que é que já conheceram, como vivem fora do país.... Chego ao destino. No caso, Paris. É uma cidade ainda mais fascinante pela segunda vez, do que na primeira visita. Respira-se charme naquelas ruas, aqueles prédios, aqueles monumentos, os cafés de madeira, com esplanadas cobertas de toalhas aos quadrados, os homens de casacos compridos e a elegância das mulheres, convivem com os omnipresentes turistas, soterrados em torres efiés de miniatura e aquele sotaque... De repente, estou no mundo Amelie Poulain. Significado: sonho, sair, ir embora, fazer diferente, mudar, acordar, sorrir, dormir, sair, ir embora, sofrer, chorar, desesperar, sair, ir embora, fazer diferente, não ficar, não me acomodar, não me amarrar, sair, ir embora, mudar, fazer diferente, sonhar, ter coragem, acordar...
Regresso ao meu mundo, pelas mãos da mãe e da avó. Desta vez mostro-lhes o pouco que conheço da cidade física. É uma realização para mim oferecer um bocadinho de novo horizonte a duas das pessoas mais importantes da minha vida. Vê-las entusiasmadas com as prendas para trazer, a reparar em pormenores, como as árvores dos canteiros, as janelas, as roupas mais arrojadas desta ou daquela pessoa com quem nos cruzamos na rua e a estabelecer paralelismos surreais entre a cidade luz e a nossa pequena bolha no barrocal algarvio. Os nossos dialectos de ternura familiar ganham novas roupagens, redescobrimo-nos em cada novo estímulo. Estivemos juntas, apertadinhas pelos braços daquela cidade, e... não há palavras!
Volto em corpo aos lençóis polares da minha cama. Aconchegadinha que estou no quarto verde e azul. Lava-se a roupa, distribuem-se pequenos mimos, arrumam-se os postais na desorganização da incómoda cómoda. E goza-se uma enorme ressaca!
O sentimento é: what the hell am I doing here? Porquê? Porque de cada vez que viajo volto a perceber a desesperante imensidão de terra para palmilhar, e a pequenez das minhas pernas, a insignificância dos meus passos e a inércia da minha galopante vontade de simplesmente sair.
Por cima da cama, aconchegada com os lençóis polares, a verde e azul, como o quarto, lê-se "Neverland". Até que a rotina sorva a gula de novos mundos, era em Neverland que queria dormir.