Passam 3 anos e 14 dias desde um solarengo e caloroso dia de quase Verão, que começou muito cedo e terminou tarde demais. Foram os gritos aflitos da minha avó que me despertaram nessa manhã, no fim das minhas mini férias de erasmus, 3 dias antes de regressar a Itália para cumprir os finalmentes do programa.
O meu avô estava sentado na cama, encostado à parede, já depois de um ápice lhe ter roubado a vida. O INEM confirmou a falta do coração continuar a bater: o meu avô parou!
Seguiu-se a azáfama do inesperado, as vizinhas em solidárias visitas de frases feitas e os tristes preparativos. Sentei-me ali na cadeira perto dele, olhei-o pela última vez e lembrei-me que a terra era redonda como uma laranja, e que andava à volta do sol, como eu, pequenina como nunca fui, à volta do meu avô para ele me explicar de novo aquela complicada engrenagem, lembrei-me que basta um gesto de amor, para uma figueira despida pelo Outono dar chocolates numa manhã de Natal, lembrei-me que há histórias e ladainhas, e cantigas, cantilenas, cheiros e sabores e sons e cores que nunca vou deixar, que egoistamente vão ficar encerrados em mim, quando queria ter poderes para os mostrar assim, com a mesma intensidade com que os vivi. Às vezes, o que mais dói na morte não é ser eu a ficar sem aquela pessoa, mas sim o não poder partilhá-la e dá-la a conhecer a novas existências.
No fim do dia o meu pai disse algo que jamais vou esquecer "o teu avô viveu como quis, e morreu como quis!" Nada me soou tão verdadeiro quanto isto.
Guardo o meu avô em mim, com um amor que nunca fui capaz de pôr em palavras. É sempre assim...
Hoje lembrei-me de quem nunca vou esquecer.