A Mina, a minha gata companheira de Ap, tornou-se na melhor forma das minhas queridas vizinhas tentarem tirar nabos da púcara acerca da minha vida:
Vizinha do 4º (aquela da vida sexual barulhenta) - Ah vizinha, a gatinha é uma companhia que tem não é? Quer dizer, não sei se é casada... (tempo para a resposta)
Eu - Pois, não, não sou.
Vizinha do 4º (aquela da vida sexual barulhenta): Ah pois, então é mesmo uma companhia.
Eu - Ah, não se preocupe que eu tenho muitas companhias (risos)
9:30 da manhã:
Senhora da limpeza das escadas: Bom dia!
Eu: Bom dia!
Senhora da limpeza das escadas: Então com quem fica a sua gatinha agora?
Eu: Fica sozinha.
Senhora da limpeza das escadas: Ah, já tá habituada a ficar sozinha não é?
Eu: É. Até logo.
Ora bem, eu sou uma pessoa que não tem problema nenhum em falar da sua própria vida. Aliás, o problema é precisamente o contrário, muitas vezes falo demais. Mas há um pormenor: é que falo quando quero, com quem quero e sobre o que eu quero. E por norma não há necessidade de me fazerem perguntas. Falo espontaneamente. Todas as outras formas de tentar saber mais sobre mim deixam-me profundamente irritada.
E se há coisa que eu não quero é tentar explicar às minhas middle age vizinhas que o meu objectivo de vida nunca foi estudar, voltar para a terrinha onde toda a gente me conhece a mim e à minha familia até à 5ª geração antes de mim, arranjar um emprego estável, um rapazinho como deve de ser, comprarmos uma casinha, procriar, trocar o carro por um familiar e fazer passeios ao domingo no campo.
Por isso sim, eu vivo sozinha com uma gata, numa casa alugada, a 12km do conforto da casa dos meus pais, onde não teria que levar a roupa, cozinhar ou pagar contas ao fim do mês; gosto do que faço, mas sei que quero mudar; preocupo-me muito mais com o presente do que com o futuro (o que não é necessariamente bom); tenho muitas crises existenciais e passo o tempo a perder-me e a tentar encontrar-me. Estou a aprender a disfrutar do que tenho, para assim que me sentir pronta, sair daqui para outro sitio qualquer, porque a vida é demasiado pequena e o mundo excessivamente grande. Luto todos os dias contra a acomodação da vidinha, numas alturas com mais sucesso, noutras com menos. E abro a porta da minha casa a viajantes que não conheço de lado nenhum, mas que me mostram que é possível viver de muitas maneiras, e que se pode ambicionar muita coisa diferente de uma vivenda geminada e de um monovolume estacionado à porta.
Cada pessoa faz as suas escolhas, estabelece as suas prioridades. Não há certos nem errados, há simplesmente modos de viver diferentes.
Talvez um dia, talvez num futuro não tão distante como agora o sinto, eu queira todas essas coisas que neste momento não me dizem nada. Mas este é o meu tempo, é o meu ritmo...
Acho que seria complicado explicar isto às minhas vizinhas. Should I feel like an allien?