A semana passada foi particularmente difícil para a minha pessoa. O tempo não ajuda, está altamente depressivo, com dias cinzentos a sucederem a dias cinzentos, chuva, trovoadas e todas essas coisas das quais acho que já está toda a gente farta. Mas o clima é uma questão de fundo.
Ando desalentada. Sim, eu sei, toda a gente anda desalentada... Mas este é o meu blog e aqui fala-se dos meus desalentos!
E sim, vou falar do desalento relativamente ao meu trabalho. E venham-me cá com histórias de que "é uma sorte ter trabalho" que com a impertinência que estou, logo vos canto!
Eu posso falar de quase tudo o que se relaciona com trabalho, por experiência própria. Já fui desempregada, voluntária, recibo verde e licenciada que trabalha em áreas muito diferentes da sua formação. E sim, sou da geração rasca, que está à rasca.
Senti-me angustiada por ter contactado, na passada semana, com cerca de 150 desempregados, grande maioria pais à rasca de filhos à rasca. Pessoas que trabalharam toda a vida, e que neste momento são colocados de parte, como inválidos, porque têm mais do que 35 anos. Mendigam carimbos semanais, e conta-se histórias de que até já há patrões a cobrar por colocar carimbos... Anos e anos de descontos e neste momento têm subsídios mínimos com os dias contados. E o pior? Nenhuma saída! Tentar motivar estas pessoas para fazer formação, que muitas vezes nem se perspectiva que venha a existir, é algo que acaba comigo. Sim, eu acredito no que digo, quando lhes falo que têm que tentar pensar no seu desenvolvimento pessoal, na sua evolução enquanto pessoas, e aproveitar o tempo, infelizmente vago, para tentar fazer mais alguma coisa por si. Ponho-me do lado das angústias deles, falo-lhes da tão afamada minha geração, sou o mais sincera que posso... Mas para quê? Eu acredito na Educação e Formação de Adultos. Acredito mesmo, e acho algo profundamente nobre e necessário a uma sociedade desenvolvida. E acredito que por cada pequeno ganho que uma pessoa faz, é uma vitória que os profissionais que com ela trabalham têm (em Psicologia somos obrigados a apreciar os pequenos detalhes como grandes vitórias). O problema, como em tantas outras coisas, é misturar pessoas com números, e no final dar primazia aos números. Erro imenso! E como pedir a uma pessoa que conta trocos para as necessidades básicas, que se sente injustiçada, frustrada, angustiada e desesperada, para fazer uma formaçãozinha aqui e um RVCC ali?
Fico triste e fico frustrada. Apetece-me sair deste sistema hipócrita, em que a filosofia, essa em que acredito, perde-se em politiquices e outras "ices" que tais.
E este Sábado estive num dilema: aproveitar a tarde para fazer Censos ou ir à manifestação da afamada Geração à Rasca? Mas não me iria perdoar se não fosse, ainda mais para contribuir para os malfadados números. E lá fui. Engraçado... Foram, dizem, 6000 em Faro, mas imperou o "pouco barulho". Eu pessoalmente gosto mais assim. Para marcar presença, não é preciso grande alarido. Fiquei contente com o manifesto, deveras que fiquei.
Acho que estou numa fase silenciosa da vida, em que o alarido confunde-me, baralha-me e enerva-me.
Mas em suma, o que queria mesmo escrever é que estou saturada, simplesmente saturada...