Domingo, 17 de Abril de 2011

Se me perguntassem qual é o meu maior objectivo na passagem pela terra, eu responderia, sem sombra de dúvida, ter histórias para contar. Chegar ao fim do meu tempo por cá (de preferência muito muito velhinha) e ter muitas histórias para contar. Histórias que pudessem de alguma forma mostrar que a vida é demasiado intensa para nos deixarmos intimidar por limites toscos, que muitas vezes são impostos por outros, por medos infundados ou por puro comodismo. Quando penso nisto, lembro-me sempre em duas situações. Penso na minha avó já falecida, que ficou senil depois de uma operação e que falava metade do tempo em fazer o jantar e ir para a horta e a outra metade em bórdeis e ir com homens para trás das moitas. De alguma forma, dentro do contexto de ser-se mulher em S. Brás de Alportel há 60 anos atrás, parece-me que ela ainda deve ter feito umas maluquices, pelo menos com o meu avô :) E penso numa conversa que tive, há uns aninhos atrás com uma amiga, em que ela me dizia que nós éramos de facto privilegiadas por viver nos tempos de hoje e até no país em que vivemos, porque nos é permitido fazer tudo, podemos ser o que quisermos e viver tantas e tantas coisas. 

Também me acomodo, claro que sim. Também já me deixei intimidar pelas pressões sociais, também já me limitei pelos meus complexos, também já perdi pelo medo e pelo receio. Mas tento ultrapassar-me sempre, umas vezes com muito esforço, outras só com um empurrãozinho. Há quem diga com orgulho "sou assim e nunca vou mudar". Eu digo com o mesmo orgulho "sou assim, gosto muito de mim, mas se for para ficar melhor, mudo". Quando penso no que era há uns anos atrás e no que sou agora, não posso deixar de me sentir bem, de me sentir orgulhosa. Ultrapassei muitos obstáculos, na sua maioria criados por mim. Pode parecer fácil ultrapassar barreiras criadas por nós, mas são dificeis; não dá para culpar ninguém a não ser o próprio. É um caminho que se faz a andar, sem dúvida. E luta-se muito. Mas quando se olha para o passado e para o presente, vale a pena. 

É como uma casa remodelada, em que a estrutura se mantém, mas muda-se a decoração. Quando se entra continua a saber-se onde é a sala, o quarto ou a cozinha, mas mudaram-se os cortinados, pintaram-se as paredes, tiraram-se os cães de loiça, o menino da lágrima e o candelabro. Ficou melhor, mas o trabalho está sempre inacabado, porque há sempre algo a melhorar :)

E isto tudo para dizer que ontem superei-me uma vez mais. Lá fui saltar de pára-quedas. Saliente-se que eu tenho medo de andar de avião, e para quem padece deste mal, ver pessoas a saírem disparadas a 4200m de altura não foi pêra doce. Especialmente porque a seguir fui eu... As horas antes são agridoces. Dá aquele nervoso ao qual parece que não vou sobreviver, a prisão de ventre fica esquecida por um tempo, há entusiasmo, as mãos não param de suar... and so on. E depois lá vamos para dentro daqueles aviõezinhos que parecem de brincar e sobe, sobe sobe. Abre-se a porta, e puff, queda livre durante um minuto. Logo quando saí, esqueci-me da pernas baralhei-me toda com a posição. Mas depois a coisa compôs-se e era só ar, ar e mais ar. E o verde da planície lá em baixo. Não há pensamento, acho eu. Ou pelo menos não me lembro. Entretanto o pára-quedas abre e tudo faz sentido. Eu acho que me senti mais segura no pára-quedas do que a andar de avião. Está-se lá em cima, desfruta-se da magnifica paisagem, do ar que é diferente e parece que nada pode correr mal. O pássaros são uns privilegiados, sem dúvida. 

Se alguém tiver vontade e uma pontinha de dúvida, esqueça a dúvida. E se tiver dúvida e um pontinha de vontade, esqueça a dúvida também. Voar é fantástico!

E soma-se mais um história para contar!



apoquentado por Béu às 08:36 | linque da apoquentação | mandar pitafe

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