Excesso de Salazarismo em menos de 5 metros quadrados... é necessário dispersar rapidamente. A estrada está esburacada, daquela forma irritante que faz o carro guinar; ainda falta mais de uma hora para a sessão. Mas há estímulos que bastem, tecidos de muitas cores, muitos solitários no meio de famílias, de multidões, actividades de cariz social a decorrer e a tentação evitada de um vestido verde tropa, demasiado apertado no peito. Um jornal, bem mais em conta do que o vestido, um café e uma água das pedras com gelo e limão. O suficiente para consumir os quase 60 minutos que ainda faltam. A ausência da menina de cabelos loiros e as eleições marcam a actualidade. E no meio: a igreja acaba com o limbo. Afinal deixa de haver portagem. Via verde, ou para o céu ou para o inferno. Ganham as crianças que não foram baptizadas, mas que pela sua inocência, ascendem, sem passar pela casa de partida, ao reino de Deus nosso senhor. Bem haja a igreja moderna, sempre atenta às questões importantes dos nosso tempo.
E chega a hora. Passagem rápida pelo WC. "Boa tarde. Sala 2." Vazia, completamente vazia. Penso: bela metáfora para a solidão solarenga de um Domingo à tarde. Mas vão chegando, amiúde, poucochinhos, insuficientes para dar um tom de pele ao azul escuro das cadeiras. O resto? "Não digas a ninguém"... Ninguém te vai ouvir...