Terça-feira, 17 de Maio de 2011

O medo é algo inato, e nas doses certas, é o que nos protege dos riscos que podem pôr em causa a nossa integridade, seja ela fisica ou psicológica. Muitas vezes o medo personifica-se. Toma a forma de uma pessoa, de uma objecto, de uma situação... São os monstros que nos vão acompanhando ao longa da vida. Quando somos pequenos há o papão. Quando crescemos, o papão transforma-se em tantas outras coisas.  

Lembro-me dos meus monstros desde sempre. Quando era mesmo pequena tinha medo de ser assaltada. Este medo só é mesmo explicável pela prolongada exposição a novelas brasileiras. Isto porque cresci no campo, sem chave da porta de casa, porque estava sempre aberta, o carros no quintal permaneciam dia e noite com a chave lá dentro, e toda a gente que chegava lá a casa, chegava por bem. Mesmo assim, eu morria de medo de assaltos. Lembro-me de ficar na cama quietinha sem mexer um músculo, com medo que algum bandido viesse e me atacasse. 

Quando entrei na adolescência comecei a sentir medo de ficar doente. Não com uma doença qualquer, mas com cancro. Este é o monstro que me acompanha desde os meus 13 ou 14 anos. Na altura haviam dois casos de rapazes novos e saudáveis, da minha idade, na dura batalha contra a doença, lá na terra. Nos dois casos a doença venceu. De cada vez que me doía a cabeça ou qualquer outra coisa, eu pensava que estava doente. Acho que nunca o disse a ninguém. Esperava que aquele pensamento passasse e que as dores se fossem embora, da mesma forma como apareceram. 

Hoje, este continua a ser o meu maior monstro. Vi o meu avô definhar, vi a minha tia lutar com todas as forças para combater a doença (e felizmente com sucesso), via a minha outra tia sofrer durante 2 anos e acabar por desaparecer depois de morrer aos poucos... Não há nada que nos faça saber lidar com isto. Sofre-se porque se vê o outro sofrer e não se pode fazer nada, sofre-se porque se pensa que pode acontecer a mais alguém que se ama e sofre-se porque se tem medo que um dia sejamos nós a estar ali.

Não sei o que a vida me reserva (e também não quero saber), mas apeteceu-me escrever sobre isto, porque não me tem saído da cabeça. 

"Não deixar nada por fazer, nada por dizer" porque um dia tudo o que faz sentido hoje pode deixar de fazer, aquilo que é prioridade deixar de o ser, aquilo que se tem, deixa de ter qualquer significado. Só sobra o que se é realmente, e aquilo que se fez e que se viveu. 



apoquentado por Béu às 16:42 | linque da apoquentação | mandar pitafe

mais sobre mim
Julho 2011
Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1
2

3
4
5
6
7
8
9

10
11
12
13
14
15
16

17
18
19
20
21
22
23

24
25
26
27
28
29
30

31


apoquentações fresquinhas

The end

Se a perfeição existe...

Setembro 2011

Every teardrop is a water...

Meia de proposta

Fecha a porta, que faz co...

O meu favorito do mestre ...

Para quem não acredita qu...

Dancing terapia queen

Faz hoje 7 anos

past

Julho 2011

Junho 2011

Maio 2011

Abril 2011

Março 2011

Fevereiro 2011

Janeiro 2011

Dezembro 2010

Novembro 2010

Setembro 2010

Agosto 2010

Julho 2010

Junho 2010

Maio 2010

Abril 2010

Fevereiro 2010

Janeiro 2010

Dezembro 2009

Novembro 2009

Outubro 2009

Setembro 2009

Agosto 2009

Julho 2009

Junho 2009

Maio 2009

Abril 2009

Março 2009

Fevereiro 2009

Janeiro 2009

Dezembro 2008

Novembro 2008

Outubro 2008

Setembro 2008

Agosto 2008

Julho 2008

Junho 2008

Maio 2008

Abril 2008

Março 2008

Fevereiro 2008

Janeiro 2008

Dezembro 2007

Novembro 2007

Outubro 2007

Setembro 2007

Agosto 2007

Julho 2007

Junho 2007

Maio 2007

Abril 2007

tags

a gata

alentejo

amizade; morte

analogias

aniversário

balanço

carnaval

coisas

coisas boas

coisas que irritam

comida

crises existenciais

desabafos

férias

filmes

homens

inspira-me

mina

mina a gata

natal

nomes

nostalgia

observações

país

pessoas

primavera; flor

prisão

saudades

signos

sócrátes

testes

trabalho

viagens

todas as tags

os mais espectaculares

Ensaio sobre a bestialida...

E se um dia

Líquidos

Liberdade?

Domingo à tarde

?

Avô Hique

Ode parte I

A sazonalidade

Noites dedilhadas...

linques
blogs SAPO
subscrever feeds