Domingo, 15 de Junho de 2008
Se há coisa que eu gosto é de uma boa história contada na primeira pessoa, daquelas que figurarão certamente no livro de crónicas para contar às gerações vindouras, e que no fim acabam sempre com a típica frase "isto só a mim!". Felizmente tenho tido uma existência rica em histórias "isto só a mim" que servem para divertir amigos e familiares, e sobretudo para me divertir a mim (porque rir de nós é sem dúvida um dos mais saudáveis mecanismos de defesa).
Mas passemos ao que realmente importa.
Véspera do dia de Portugal, à noite; carro na reserva há já alguns dias, como habitualmente; necessidade de ir até à Guia comprar uma prenda; ir à bomba de gasolina e pedir ao vizinho Manel João que me pusesse 20€ de gasóleo. Até aqui tudo bem. O vizinho lá colocou o combustível, mas em vez de 20, foram 15€ (estranho); a agulha do combustível não se moveu (muito estranho); mas eu, ingénua, ainda confio mais nas pessoas do que nas máquinas, e pensei "ah, avariou o ponteiro mesmo agora".
Ponho-me a caminho da Guia, compro a prenda, e regresso... até ao último soluço do carro, entre a saída de Faro aeroporto e S. Brás/Estoi. Visto o coletinho, ligo os 4 piscas e ponho o triângulo. Entretanto, telefonema à mamã, que sabiamente me aconselha a ligar para a assistência em viagem. E quando vou tentar estabelecer ligação... não há bateria.
Era mais ou menos meia noite, e lá estava eu, fluorescente, em plena A22, sozinha e sem forma de contactar com o mundo.
Tentei alguns acenos, mãos no ar, saltinhos, cara de desespero... e finalmente um simpático casal parou e deixou-me, enfim, telefonar para a companhia de seguros.
Reboque?! Não há reboque por causa da greve, disse o senhor com um voz serena. Mas podemos enviar um taxi para ir buscá-la e depois tenta arranjar forma de tirar daí o carro. Seja! pois se não há alternativa... Agradeço as vezes que consegui, naquele curto espaço de tempo, ao casal e tranco-me no carro à espera do taxi.
Passaram aí uns 15 minutos e nada de taxi. Mas eis que, no breu, surge um carro da GNR com as luzes azulinhas acessas e param em frente à minha viatura. Bem haja foi a minha primeira expressão.
E de repente lá estava eu, dentro do jipe do corpo de intervenção da GNR, sentada em cima de uma bazuca, a dar instruções aos dois rapazes jeitosos, que tinham vindo de Lisboa por causa da greve dos camionistas, para chegarem aos Barrabés e me deixarem precisamente à porta de casa. O caminho foi algo surreal, comigo a dizer coisas ainda mais estúpidas que o normal, devido ao nervoso, e os senhores Guardas a explicarem-me que eram do bate e foge, ou seja, do corpo de intervenção da GNR, a perguntarem-me se eu não queria que eles ligassem as sirenes e as luzes quando me deixassem em casa, a recomendarem-me vivamente que não falasse nunca mais mal da Guarda... Fui escoltada até casa :) Esta já ninguém me tira!
E tudo isto porque o vizinho Manel João confundiu-se todo e não me pôs rigorosamente gasóleo nenhum no carro! Moral da história: nunca confiar mais nas pessoas do que nas máquinas, especialmente se se tratar de combustíveis!
...a menos que estejam dispostos a arriscar uma história "isto só a mim"!
:) O meu sentido reconhecimento àqueles dois senhores do bate e foge!
De
Vb a 27 de Junho de 2008 às 10:45
Peço-te desculpa...Mas fartei-me de rir com esta tua peripécia!!!!
Beijinho
Vitor
Realmente minha querida amiga... só a ti! E só as tuas estórias para me fazerem rir até ir para a cova ;)
Olá, de novo, Isabel!
Como pode perceber estou dando uma navegada em seu blog. Gostei muito do seu texto, ou crônica, como queira. Enviei uns originais para uma outra editora em Lisboa, de um livro de crônicas minhas. O que você passou foi realmente uma situação surreal. Envio pra você, agora, uma das crônicas que farão parte do meu outro livro. Espero que goste!
Um abraço.
Marco.
A MUDANÇA
No início tudo eram flores. Os seis anos de namoro foram mais que suficientes para Lucinda e Mafra se conhecerem bastante e perceberem que o destino os queria juntos. Pra sempre.
A lua-de-mel tinha sido em Búzios, onde embalados pelo calor, os pores-do-sol perfeitos e muita tequila, os dois se amavam as tardes inteiras daquele verão de 1960.
De volta ao Rio, saciados da sede de amor, começaram a nova vida. Durante os primeiros anos fugiram ao máximo da rotina.
Cinemas, boates, restaurantes e longas noites em motéis ajudavam a retardar o infalível: a mesmice do dia-a-dia em que sua vida se transformaria.
No início Mafra era atencioso, chegava sempre do trabalho com uma novidade, um presentinho, um mimo qualquer que colocava um brilho nos olhos de Lucinda e a fazia pensar: aquele havia sido mais um dia que tinha valido a pena em sua vida.
Com o passar do tempo as horas extras foram aumentando, o carinho amornou, a cama estava sempre vazia e fria e Mafra, cada vez mais distante.
Trabalhava muito para manter um padrão de vida alto, roupas caras, muitas jóias e os dois carros, trocados todo ano.
Lucinda não agüentava mais. Seu corpo sempre fervendo ansiava pela presença física e constante de Mafra que, quando chegava mais cedo, por volta das onze, onze e meia da noite, estava sempre cansado, tomava um banho e ia dormir. Às vezes, nem jantar, jantava.
E Lucinda, tomada por uma constante inquietação, ia pra baixo do chuveiro arrefecer sua volúpia.
Foi logo depois do Reveillon de um ano qualquer que Mafra começou a perceber que Lucinda havia mudado.
Não cobrava mais sua presença, não reclamava mais, não ligava pra mais nada. Mafra ia, vinha, fazia, acontecia, sumia e Lucinda, nada. Feliz e tranqüila estava, feliz e tranqüila ficava.
Aquela tranqüilidade, aquela felicidade, aquela alegria toda deixavam Mafra a mil. Ele já estava preocupado com a atitude da esposa que, anteriormente, era sempre atenta a tudo, sempre com um prato diferente para o jantar, sempre mantendo a casa em ordem. Coordenava tudo sempre muito bem.
Lucinda, que nunca havia trabalhado, arranjou um curso de tapeçaria à tarde e, eventualmente, aos sábados, ia visitar uma amiga muito querida que, pela morte da mãe, havia entrado em depressão e não contava com mais ninguém para lhe ajudar a amenizar a dor da perda materna. Lucinda passava então, com ela, algumas tardes, lhe fazendo companhia.
Mafra estava desconfiado. Lucinda saía sempre muito bem arrumada e perfumada - aliás, como era comum desde que se casara com Mafra e passou a ter uma vida confortável pelo bom emprego que ele tinha – e voltava sempre cansada, com dor de cabeça -. Só que, feliz. Com aquele in-dis-far-çá-vel ar de felicidade. E aí, começaram as brigas. Mafra, irritado com o comportamento de Lucinda exigia explicações e Lucinda, por sua vez, não estava nem aí para Mafra. Alegava o de sempre e ponto final.
As horas extras de Mafra começaram a diminuir então e o curso de tapeçaria de Lucinda passou das quartas e sextas para todas as tardes da semana. E a amiga, coitada, cada vez mais triste, cada vez mais carente, esperava ansiosa pela visita de Lucinda, agora também aos domingos.
Mafra não agüentava mais aquela situação. Já não fazia mais nenhuma hora extra e estava sempre desejoso de Lucinda que continuava a não dar a mínima para ele. E com aquele ar insuportável de felicidade.
Já no desespero, na seca e na certeza de que havia ganhado um adorno de cabeça, foi trabalhar e tomou uma decisão inevitável: ia seguir Lucinda para ter certeza então do que já estava bem claro para ele.
Adiantou o serviço todo e saiu mais cedo do trabalho alegando uma indisposição qualquer. Sabia que Lucinda saía sempre após o almoço, pois nas vezes em que telefonou para casa e Lucimeire, a empregada disse a mesma coisa: Dona Lucinda foi para o curso de tapeçaria.
Mafra, então, foi correndo pra casa dar
De Beto a 22 de Janeiro de 2012 às 15:19
corpo de intervenção da GNR?????????
bate e foge????????????????????
Que eu saiba só existe um Corpo de Intervenção, e esse é da PSP, mas pronto, prestaram um bom serviço... ao menos isso
De
Béu a 23 de Agosto de 2012 às 05:46
Que seja reposta a verdade. De facto não é corpo de intervenção, mas sim Unidade de intervenção. Tive o cuidado de ir ao site oficial da GNR para não cometer mais gafes. Quanto ao bate e foge, foram os próprios senhores que me disseram, mas verdade seja dita, não tenho como provar...
mandar pitafe acerca da aopquentação