Por mais vezes que passasse por mim, nos minúsculos corredores daquela casa, perguntava sempre com o mesmo sorriso "Então senhora professora, tá boa?". E eu respondia "estou sim minha querida, desde a última vez que me perguntou!". Era uma lutadora, sonhadora e optimista, e nunca as suas limitações a fizeram baixar a guarda. Um dia, num inesquecível jogo da forca, inventou um animal: lagoípa. Ninguém sabia de que animal se tratava, nem a própria. Mas desde então passou a personificar o tal animal mistério. Era a nossa lagoípa. A última vez que a vi foi no dia dos namorados, radiante, de cabelo arranjando e roupinha de domingo, com um sorriso tão largo que quase não cabia no rosto. Era a minha lagoípa encantada com o seu amor. E disse-me mais uma vez, com uma convicção que tornava impossível a recusa, "sente-se aqui senhora professora, ao pé da gente"...
Mais uma vez, não é justo, mas soube ainda à pouco, que esta foi a última vez que vi e falei com a minha lagoípinha. Ela merecia tudo, e como se não bastasse tudo o que lhe foi sendo tirado, acabou assim, cedo demais.